quarta-feira, 18 nov 2015
Husain Haqqani foi
embaixador do Paquistão nos EUA entre 2008 e 2011. Atualmente, ele é membro do Hudson Institute,
em Washington. Eis um trecho de um
artigo
seu na imprensa britânica:
A
interpretação fundamentalista do Islã não é um pensamento comum para a maioria
dos muçulmanos, especialmente em épocas mais recentes. No entanto, tal interpretação está claramente
conduzindo a agenda política em países muçulmanos. E nem todos os muçulmanos modernos estão
dispostos a confrontar as crenças anti-ocidentais e anti-semitas que alimentam
a narrativa islâmica. Os islâmicos
radicais estão dominando o discurso dentro do mundo muçulmano assassinando os
leigos e obrigando vários deles a deixar seus respectivos países.
Com
mais de 1,4 bilhão de muçulmanos ao redor do globo, o inchaço dos jihadistas
fundamentalistas é um sério problema. Se
apenas 1% dos muçulmanos de todo o mundo aceitar essa versão intransigente da
ideologia, e se apenas 10% deste 1% (ou seja, 0,1%) decidir se comprometer com
essa agenda radical, ainda assim teremos um milhão de muçulmanos radicais
decididos a servir de recrutas para grupos como al-Qaeda, ISIS e qualquer que
seja o próximo.
Somente
uma campanha ideológica conjunta contra essa versão medieval da ideologia
islâmica, como a campanha que foi feita para desacreditar e conter o comunismo,
poderia reverter essa tendência.
Quem, exatamente, irá conduzir essa campanha
ideológica? Certamente não serão os
líderes políticos do Ocidente. Também
não serão os líderes políticos da Arábia Saudita. Quem irá financiá-la? Quem irá ensiná-la? Onde ela será ensinada? Principalmente: por que esse 0,1% do islã irá
prestar qualquer atenção a estas instruções?
Se a propaganda vier do Ocidente, ela será imediatamente rejeitada, pois
será vista como doutrinação dos infiéis.
Quando há um milhão de pessoas que são potenciais
recrutas radicais — dentre os quais há mulheres —, não se está falando de um
movimento político pequeno e marginal.
Se estas pessoas estiverem sendo financiadas, e dado que elas não têm
medo de morrer, então não há virtualmente nada que as democracias ocidentais
possam fazer para se defender. Os
governos não conseguem nem sequer conter o fluxo de armas que abastecem esses
grupos. Eles podem até tentar, mas, ao
simplesmente tentarem, irão aumentar enormemente os custos de se defender
contra terroristas.
No que mais, terroristas não obedecem a leis sobre
porte de armas. Terroristas não são
muito adeptos do desarmamento. Os
terroristas que massacraram quase
100 pessoas na casa de shows Bataclan, em Paris, tinham Kalashnikovs (arma
russa popularmente conhecida como AK-47).
Obviamente, eles não conseguiram aquelas Kalashnikovs em uma loja de
penhor em Paris.
Segundo relatos dos sobreviventes, os terroristas
armados calmamente
recarregaram suas armas várias vezes, sem serem molestados. E, após cada tiro, enfiavam
facas no estômago das vítimas para se certificar de que estavam
mortas. Em nenhum momento se preocuparam
com a hipótese de haver alguém armado dentro da casa de shows. Uma única pessoa com
uma pequena .45 poderia ter mudado a história.
O presidente da França pode dizer que isso é um ato
de guerra, e ele pode ordenar ataques aéreos sobre o ISIS, mas isso não irá
solucionar o problema domesticamente. Os
guetos muçulmanos de Paris são impenetráveis.
Há distritos em Paris em que nem a própria polícia entra à noite.
Eis o fato aterrador: quando indivíduos estão
dispostos a morrer em uma missão suicida, não há essencialmente nada que as
polícias e as operações militares do Ocidente possam fazer para proteger o
público.
Isso significa que o público terá de se proteger por
conta própria. Os políticos da Europa
preferem ver seus cidadãos desprotegidos a permitir que eles possam portar
armas. Os políticos têm muito mais medo
de ver cidadãos europeus armados para se defender de terroristas muçulmanos do
que dos próprios terroristas muçulmanos.
O mesmo raciocínio também é válido para o presidente americano. No entanto, a sorte dos americanos é que o
Congresso pensa diferente.
Já está óbvio para qualquer americano que possui uma
arma que a Europa já perdeu sua fibra. Já
está claro para os americanos que os cidadãos europeus foram tornados
simplesmente incapazes de se defender contra terroristas. Políticos europeus podem falar o quanto
quiserem sobre estarem em guerra; todos sabem que eles não irão conduzir uma
guerra contra terroristas muçulmanos.
Eles irão, isso sim, continuar conduzindo uma guerra contra a
possibilidade de seus cidadãos se armarem.
Essa é uma guerra na qual os governos europeus estão envolvidos há um
século.
Terroristas muçulmanos constrangem políticos
europeus porque terroristas armados com Kalashnikovs demonstram claramente a
ineficácia das leis desarmamentistas para os terroristas. Os atentados de Paris também deixaram claro
que as leis desarmamentistas foram muito eficazes entre os cidadãos
europeus. Eles estão totalmente
indefesos; já os terroristas não. Os
terroristas estão no controle, pois eles conseguem obter Kalashnikovs e também
estão dispostos a morrer por sua causa. Esses
dois fatores colocam os terroristas no controle da agenda.
Mas não é assim que Obama irá ver a situação. E não é assim que François Hollande entenderá
a situação. Também não é assim que
Angela Merkel irá interpretar tudo. Mas
aqueles que entendem de armas entendem perfeitamente até que ponto os
terroristas estão em vantagem e ganharam uma espécie de carta branca.
[N. do E.: recentemente, no Texas, um bandido
invadiu uma igreja. O
pastor, que estava armado, atirou nele. O bandido ficou ferido e, enquanto
aguardava a polícia e os paramédico, o pastor orou ao lado do baleado.
Também no Texas, houve um concurso de caricaturas do profeta Maomé. Dois
homens do Isis, fortemente armados, tentaram invadir o local. Foram mortos. Nenhum inocente morreu.
Em Ohio, um homem
portando uma arma evitou uma chacina. Várias vítimas foram salvas,
incluindo uma criança de um ano. Ninguém
morreu e o maluco foi preso.]
Em Israel, terroristas podem utilizar facas para assassinar
suas vítimas. Eles
estão utilizando facas, mas isso não recebe a mesma publicidade que
chacinas. Houve um que utilizou um machado, e foi prontamente morto por um
cidadão armado.
O Ocidente agora tem de tentar pegar o tigre pelo
rabo. A jaula está aberta e o tigre já
está fugindo. No entanto, esse problema
é muito maior na Europa do que nos EUA.
Caso esse problema chegue aos EUA, a reforma não ocorrerá nas mentes dos
terroristas. Ela ocorrerá nas mentes dos
americanos, principalmente dos mais progressistas que moram nas grandes
cidades, os quais finalmente terão de decidir se já não é chegada a hora de
portar uma arma. Isso será uma ótima
notícia para a liberdade, e péssima notícia para o governo.
Intervenções externas
A França não foi escolhida aleatoriamente. Há um longo histórico de intervenções do
governo francês — ainda mais violentas que as do governo americano — na
Síria, no Líbano, no norte da África, e em demais localidades muçulmanas.
Uma recente
reportagem da The Atlantic
forneceu um ótimo resumo das intervenções do governo francês na África e no
Oriente Médio nos últimos anos. Desde
setembro de 2014, por exemplo, o governo francês já praticou 200 bombardeios
aéreos no Oriente Médio. A
Síria tem sido um alvo preferencial.
Somente o mais ingênuo dos observadores poderia
afirmar que estes bombardeios, bem como outras operações militares, não
afetaram a população civil e não causaram mortes de inocentes, mulheres e
crianças. O governo francês vem
bombardeando, matando e mutilando africanos e cidadãos do Oriente Médio há
décadas.
E não nos esqueçamos de que o governo francês estava
na vanguarda
da guerra da Otan contra o governo da Líbia em 2011, intervenção esta que
foi parte de um esforço dos poderes colonizadores europeus para readquirir o controle de
uma região que estava ficando sob influência chinesa.
Estas infindáveis intervenções militares não apenas
não deixaram os EUA e a Europa mais seguros, como ainda geraram as famosas
consequências não-premeditadas: a população cristã destes países bombardeados,
que até então vivia relativamente segura e protegida pelos governos seculares
do Iraque, da Síria e da Líbia, hoje está sendo massacrada e expulsa por
fundamentalistas islâmicos, fazendo com que o
cristianismo esteja à beira da extinção no Oriente Médio.
Várias das armas enviadas pelos EUA, pela França e
por demais aliados para os "rebeldes moderados" que tentavam derrubar o governo
de Assad foram parar nas mãos dos jihadistas que hoje compõem o ISIS. Os grupos moderados se juntaram às facções
radicais, levando consigo suas armas e seu treinamento, ambos fornecido pelo
governo americano. Outros grupos
moderados foram ou capturados ou mortos, com suas armas (fornecidas por EUA e
França) sendo confiscadas pelos radicais.
Consequentemente, as facções mais radicais se tornaram mais bem
equipadas e mais bem treinadas, e ocasionalmente são atacadas por aviões de
seus ex-mentores.
Conclusão
As políticas de intervenção externa para fazer
"mudanças de regime" apenas pioraram a situação. É incrivelmente tola a ideia de que governos
podem enviar armamento pesado para "os moderados" do Oriente Médio e acreditar
que este equipamento não irá cair nas mãos de radicais.
Mais bombardeios não irão resolver o problema do
Oriente Médio.
Eis uma alternativa: o Ocidente deveria se
concentrar no comércio e nas relações amigáveis, parar de enviar armas para a
região, abolir todas as políticas de "mudança de regime" e manipulações afins,
respeitar a soberania nacional alheia, e manter uma forte defesa dentro das
fronteiras nacionais.
As fracassadas políticas do passado devem ser
rejeitadas, antes que seja tarde demais.
Se os governos ocidentais tirarem suas tropas dos países
islâmicos, e pararem de bombardeá-los, isso já seria uma mudança positiva. O problema é que políticos adoram a noção de
construir impérios.
A violência nunca acaba. Ela só se intensifica.
Os suíços é que sempre estiveram corretos. Sua população é extremamente armada e seu
governo não pratica intervenções e bombardeios externos. Não houve nenhum ataque terrorista na Suíça.
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Ryan
McMaken, editor do
Mises Institute americano.
Gary
North, ex-membro adjunto do Mises Institute, é o autor de
vários livros sobre economia, ética e história.
Ron
Paul, médico e ex-congressista republicano do Texas. Foi
candidato à presidente dos Estados Unidos em 1988 pelo partido libertário e
candidato à nomeação para as eleições presidenciais de 2008 e 2012 pelo partido
republicano.
É autor de diversos livros sobre a Escola Austríaca
de economia e a filosofia política libertária como Mises e a Escola
Austríaca: uma visão pessoal, Definindo a liberdade, O Fim do Fed – por
que acabar com o Banco Central (2009), The Case for Gold (1982), The
Revolution: A Manifesto (2008), Pillars of Prosperity (2008)
e A Foreign Policy of Freedom(2007).
O doutor Paul foi um dos fundadores do Ludwig von
Mises Institute, em 1982, e no ano de 2013 fundou o Ron Paul Institute for Peace and Prosperity e
o The Ron Paul Channel.