N.
do T.: o artigo a seguir foi adaptado para a realidade brasileira
De todos os passos que foram dados rumo
ao caminho da servidão, qual foi o pior?
Em minha opinião, foi o de permitir
que o estado educasse nossos filhos, seja diretamente por meio de escolas
públicas, seja indiretamente por meio de escolas privadas reguladas
integralmente pelo Ministério da Educação.
Dado que a educação que nossos filhos recebem
é toda controlada por funcionários públicos, que operam dentro das normas estabelecidas
por um sistema estatal, não é surpresa nenhuma que nossos filhos cresçam acreditando que:
- o estado é um árbitro justo,
imparcial, amoroso e caritativo, ao contrário de empreendedores privados, que
agem somente em interesse próprio;
- programas governamentais realmente
entregam aquilo que prometem e, sem eles, as pessoas estariam em situação
muito pior;
- sem a saúde e a educação públicas, e
sem programas de assistência social do governo, todos morreríamos doentes ainda
muito jovens, seríamos analfabetos e as ruas estariam repletas de pessoas passando
fome; e
- o estado é o país, e é nosso dever patriótico apoiar toda e qualquer
política idiota que o governo decida implementar.
A educação é um desastre. Se você não acredita em mim, pergunte aos
próprios políticos. Todo ano de eleição
eles aparecem para nos contar como a educação está terrível — crianças que não
conseguem ler em idade já avançada, violência nas salas de aula, professores
incapacitados e mal pagos, infraestrutura precária e aos
pedaços, drogas sendo vendidas dentro das escolas, salas de aula com excesso de
alunos etc.
É claro que todos os políticos têm na
ponta da língua soluções que irão sanar todos estes problemas. Porém, mesmo depois de eleitos, e de
implementarem suas soluções, eles sempre voltam nas eleições seguintes dizendo como
a situação da educação continua terrível.
A
política e as escolas públicas
A primeira coisa que precisa ser
entendida a respeito das escolas públicas é que elas não são instituições educacionais.
Elas são agências políticas — logo, são controladas pelo grupo que tenha
mais influência política. E isto exclui
você e eu.
Não é de se estranhar, portanto, que
suas políticas de ensino e de funcionamento sejam ditadas pelos sindicatos dos
professores e dos funcionários, bem como pelas fantasias utópicas das
universidades nas quais esses professores se formaram. Não existe um sistema de recompensas ou de
incentivos para inovações. Mesmo os
professores mais bem intencionados não têm oportunidades para utilizar métodos
originais, lógicos e sensatos para resolver problemas rotineiros. Não há nenhuma chance de se recompensar
aqueles que demonstram um desempenho superior.
É a burocracia quem comanda tudo, e a ela todos devem ser submissos.
Para piorar, as escolas públicas
acabam ensinando muitas coisas que iriam deixar os pais apavorados — isto se
os pais soubessem exatamente o que se passa nas escolas. Orientação sexual e "kit-gay" são apenas a
ponta do iceberg. Os alunos são ensinados
a atormentar seus pais para que eles reciclem lixo, para que fechem a torneira
do chuveiro enquanto estiverem se ensaboando durante o banho, e para que adotem
inúmeros outros rituais da nova religião ambientalista. Literatura clássica quase nunca é
mencionada. Quando o é, é apenas para
mostrar como as pessoas já foram ignorantes e insensíveis, e não para mostrar
aos alunos a complexidade da vida e a riqueza do idioma.
Tempo e recursos parece haver de sobra
para ensinar as crianças a se conformarem com a ideologia e o pensamento
politicamente correto da moda. Porém, se
os pais reclamam que seus filhos não estão aprendendo ciências, português,
história e matemática, os políticos respondem que está faltando dinheiro, os
professores respondem que são mal pagos e vários "agentes sociais" dizem que a
nova metodologia de ensino, com maior ênfase na 'consciência social do aluno',
é bastante superior ao velho e reacionário método clássico de educação. E, no final, todos se unem para concluir que
o grande problema realmente é o governo, que destina pouco dinheiro para a educação — logo, novos impostos são
necessários.
A questão é: teria como as coisas realmente
serem diferentes? Nesse atual arranjo, sem
estarem submetidos a uma pressão competitiva, sem estarem sujeitos à
concorrência, as pessoas que realmente estão no controle das escolas públicas
— os burocratas sindicalizados — estão livres para saciar seus desejos mais
indômitos de doutrinar as crianças para que elas sejam cidadãos exemplares da
Nova Ordem. Em um sistema como este, os bons
professores não têm a menor chance — nem o estímulo — de fazer a diferença.
Público
vs. Privado
O problema não são professores
despreparados. O problema não é a falta de recursos ou a falta de participação
dos pais.
O problema é que as escolas são
administradas pelo governo.
Podemos ver isso claramente ao
comparar a educação pública com a indústria de computadores — um dos ramos
menos regulados em todo o mundo.
- A educação está sob o comando de políticos e burocratas, gente que
jamais irá enfrentar pessoalmente as consequências de suas próprias medidas, por
mais que arruínem a educação de nossos filhos.
E assim, os custos da educação vão ficando cada vez maiores, ano após
ano, ao mesmo tempo em que a qualidade e a utilidade decrescem velozmente.
- A produção de computadores, notebooks e afins está sob o comando de
empreendedores, pessoas que visam ao lucro e que, por isso mesmo, têm de estar
sempre encontrando novas maneiras de nos satisfazer, produzindo cada vez mais com
cada vez menos — caso contrário, perderão o que investiram e irão à
falência. E assim, computadores,
notebooks e demais apetrechos tecnológicos vão ficando cada vez mais baratos,
ano após ano (ou mês após mês), ao mesmo tempo em que sua qualidade e utilidade
aumentam velozmente.
Ao contrário das empresas de tecnologia,
as escolas públicas são organizações monopolistas isoladas da concorrência — e
inteiramente sustentadas pela coerção do governo. Um sistema de vouchers para as escolas
privadas, nos moldes defendidos por alguns liberais genuínos, não tornaria as
escolas públicas mais competitivas simplesmente porque as escolas do governo não precisam competir. (Em nível universitário, já temos os exemplos
práticos do ProUni e do Fies, que nada mais é do que uma variância desse esquema de
vouchers. O único resultado foi piorar a
educação das universidades particulares que recebem esse subsídio, pois agora
elas não mais têm de competir por novos alunos; o governo já garante a
receita.)
Não importa quantos alunos as escolas
públicas percam para as escolas privadas e para aqueles heróis que, à revelia do
governo, praticam ensino
doméstico; o fato é que as escolas públicas ainda obtêm seus recursos
por meio da força — e quanto maiores os seus fracassos, mais eles são utilizados
como desculpa para se exigir ainda mais recursos.
Dado que o governo possui livre acesso a um recurso que
empresas privadas não têm — o dinheiro dos pagadores de impostos —, ele
consegue oferecer seus serviços "gratuitamente". Eles não são realmente gratuitos, é claro; no
contexto estatal, "gratuito" significa que todas as pessoas pagam pelo serviço,
queiram elas ou não.
Infelizmente, isso que irei dizer agora não é compreendido
por todos, mas enquanto o governo puder tributar os cidadãos para lhes fornecer
serviços educacionais a preço marginal zero, todo um serviço educacional
privado que poderia existir jamais é criado.
Não deixa de ser irônico constatar essa contradição: ao mesmo tempo em
que o governo vigilantemente pune empresas que praticam "concorrência predatória"
(leia-se: fornecem produtos e serviços a preços baixos), ele próprio incorre
nessa prática — só que de maneira totalmente coerciva, pois o faz com o
dinheiro que confisca da população — no serviço educacional.
Inversão
de papéis
Suponhamos que o governo tenha estatizado
a indústria de computadores tão logo ela surgiu (tudo para o "bem do povo", claro). Não é difícil imaginarmos como ela seria
hoje:
- Um
computador pessoal custaria alguns milhões de reais e seria maior que uma casa
- Ele
provavelmente seria capaz de realizar operações de soma e subtração, porém os
funcionários públicos iriam nos explicar por que é cientificamente impossível
uma máquina destas realizar multiplicações e divisões;
- O custo
de um computador subiria continuamente, e cada modelo novo seria pior e mais
caro que o do ano anterior;
- Haveria
grupos de interesse organizados tentando fazer com que o governo produzisse
computadores com DOS, e outros grupos exigindo interface gráfica. Haveria intensos debates sobre se os
computadores fornecidos pelo governo deveriam poder acessar sites religiosos ou
não.
O lado positivo seria que todos os
computadores viriam com um software que ensinaria às crianças como manusear uma
camisinha.
Por
outro lado...
Agora vamos supor o contrário, que a
educação fosse organizada de acordo com a indústria de computadores — formada
por empresas privadas concorrendo em um mercado sem barreiras à entrada, livres
de todos os tipos de regulamentações, que não estivessem sujeitas a matérias
obrigatórias ou a comissões políticas.
Em suma, por empresas que simplesmente tivessem de competir pela
preferência dos pais.
Como as escolas seriam? Parece-me
óbvio que:
- O custo
da educação cairia ano após ano, com as empresas encontrando maneiras de
fornecer educação de qualidade a custos cada vez menores. E todo o dinheiro que você gasta hoje para
pagar pelas escolas públicas por meio de impostos ficaria integralmente com
você, para gastar como achar melhor.
- A
concorrência faria com que as escolas tivessem de melhorar ano após ano. Não dá para fazer previsões, mas é bem
possível que as crianças precisassem passar apenas 3 horas por dia na escola
para receber uma educação muito superior do que a obtida hoje nas escolas
controladas pelo governo.
- As
escolas seriam tão mais estimulantes, que as crianças poderiam perfeitamente
querer passar várias horas por dia explorando o mundo da matemática, da história,
da geografia, da literatura, da redação ou de qualquer outro tema que tenha
despertado sua imaginação.
- Dado que
não haveria nenhum Ministério da Educação impondo um determinado tipo de
currículo para todo o país, não veríamos mais as brigas amargas sobre os
conteúdos ministrados, sobre a necessidade ou não de se ensinar religião,
"sensibilidade social" e educação sexual; não haveria problemas com a imposição
estatal de "kit-gay" ou com a aceitação ou não de professores
homossexuais. Se uma escola quisesse se
especializar exclusivamente em esportes, por exemplo, caberia aos pais decidir se
querem ou não que seus filhos estudem ali.
A liberdade definiria as escolhas.
Não mais haveria as centenas de controvérsias que vemos na educação
atual, completamente controlada pelos burocratas do Ministério da Educação. Se você não gosta do que a escola do seu
filho está ensinando, você simplesmente vai atrás de outra melhor — do mesmo
jeito que vai atrás de um supermercado que tenha o que você quer.
- Haveria
dezenas de opções disponíveis para você — escolas mais severas, escolas com
disciplinas especiais, como música e cinema, escolas alternativas e até mesmo escolas que ofereçam um ensino
completo sobre o funcionamento do livre mercado e do empreendedorismo, o que iria
ajudar seu filho a obter uma vida mais confortável quando crescesse, além de poupar seu cérebro de infecções marxistas. Algumas escolas poderiam perfeitamente criar
um currículo personalizado baseando-se em suas expectativas e nas capacidades
de seu filho, ao passo que outras ofereceriam uma educação mais simples a um
custo menor para aqueles que precisam economizar.
Temos de agradecer aos céus pelo fato
de que nossos computadores e demais aparelhos eletrônicos não são fornecidos
pelo estado. Mas também nunca podemos
nos esquecer de como a educação poderia ser muito melhor, mais dinâmica e estimulante,
se ela fosse tão livre do estado
quanto é a indústria tecnológica.
Não há nada de específico na educação que nos faça duvidar
de que o mercado poderia fornecê-la.
Assim como qualquer produto ou serviço, a educação é uma combinação de
terra, trabalho e capital direcionados a um objetivo claro: a instrução de
assuntos acadêmicos e relacionados, os quais são demandados por uma classe de
consumidores, majoritariamente pais.
O argumento de que uma educação de alta qualidade seria
intrinsecamente cara para uma fatia significativa da população não se
sustenta. Um livre mercado que consegue
saturar a sociedade com telefones celulares, geladeiras, fornos microondas,
televisões da alta definição, computadores, tablets e máquinas de lavar
certamente pode produzir educação de alta qualidade para as massas. O segredo é a liberdade de empreendimento.
Imagine um mundo em que os impostos
para a educação deixassem de existir, em que a liberdade conduzisse a educação
de seus filhos e você pudesse escolher uma escola para eles da mesma maneira
que escolhe qual artefato eletrônico quer comprar.
Isso é querer demais?
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