segunda-feira, 7 nov 2011
A
Nova Ordem Mundial está em
apuros. A subdivisão
europeia está visivelmente em processo de desintegração.
É
fácil perceber quando um importante arranjo da NOM entrou em crise.
Os representantes da grande mídia perguntam
repetidamente aos porta-vozes do alto escalão: "Os atuais eventos ameaçam seus
planos?" E eles respondem: "Não, trata-se apenas de uma anormalidade
temporária". E esse mantra é repetido
incessantemente. Enquanto isso, os
eventos que geraram a pergunta seguem irreprimíveis, tornando-se cada vez mais
ameaçadores.
Outro
sinal de que há uma verdadeira crise é quando os líderes políticos mundiais
fazem sucessivas reuniões em um curto espaço de tempo, algo chamado 'reunião
de cúpula' ou 'encontro de líderes'. Uma
cúpula significa "o topo do monte". Os
burocratas do mais alto escalão se encontram em privado, mas a reunião é
visível para toda a mídia.
Os
jornalistas adoram uma reunião de cúpula porque tais encontros sempre ocorrem
em hotéis elegantes e em localidades pomposas.
Afinal, quem levaria a sério uma reunião ocorrida em, sei lá, Hoboken,
Nova Jersey? Ninguém. Por isso, os líderes se encontram apenas em
locais extremamente caros e sofisticados.
Os jornalistas designados para cobrir o evento se deliciam às expensas
de seus jornais. E todos os envolvidos
se divertem bastante.
O
problema com essa estratégia é que sempre aparecem alguns manifestantes, e eles
quase nunca são importunados. Eles não
se hospedam no mesmo hotel luxuoso. A
mídia jamais relata onde exatamente eles se hospedam. De alguma forma um tanto estranha, milhares
deles possuem dinheiro sobrando para gastar com passagens aéreas. Eles provavelmente encontram abrigo em algum
subsolo de alguma loja a preços camaradas.
E então eles saem para se manifestar em frente ao hotel, carregando
cartazes e fazendo muita balbúrdia. "Chega
disso! Chega daquilo! Chega disso!
Chega daquilo!". Alguns até
carregam um cartaz escrito "Libertem Mumia!". E tudo segue inalterado até o fim do
encontro.
Algumas
vezes, as coisas ficam um pouco violentas, e alguns manifestantes são presos.
Os
membros da cúpula nunca se manifestam publicamente sobre os protestos. E a mídia educadamente jamais faz perguntas a
respeito.
Findado
o encontro, os líderes soltam um comunicado à imprensa assegurando ao mundo que
a reunião foi repleta de discussões francas.
E que novas discussões francas serão mantidas por membros de um comitê
permanente que foi criado com a missão de examinar as questões com mais
profundidade. Os participantes então se
reúnem para uma foto do grupo. E assim
termina o encontro.
E
Mumia continua preso.
Reuniões seguidas
Quando
o grupo se reúne novamente em menos de dois meses para analisar O Problema,
podemos ter a certeza de que as pessoas do topo do monte — e aqui me refiro ao
topo verdadeiro, aos poderosos que jamais aparecem na mídia, e não aos seus
meros representantes eleitos — estão com sérios problemas. O encontro anterior de seus porta-vozes não
acalmou a situação. A crise só fez
piorar. Assim, uma ordem é emitida do
Alto Escalão para os Líderes Oficiais: é melhor agendar outra reunião de cúpula. O comunicado à imprensa emitido pela última
reunião não funcionou.
Ato
contínuo, os Líderes Oficiais pedem às suas assistentes para agendarem uma
reserva em outro hotel garboso. Eles
fazem as malas, juntam seu séquito, acionam as turbinas de seus jatos
exclusivos para Líderes Oficiais, e voam para outra cidade de prestígio, onde
será realizado o próximo encontro. Eles
se reúnem em privado, mas desta vez permitem que os fotógrafos da mídia
adentrem o recinto para tirar algumas fotos, as quais devem retratar uma ostentosa
discussão franca entre os dois mais proeminentes Líderes Oficiais — uma alemã
e um francês (ou, o que é mais raro, os três principais, ao qual se inclui um
italiano). A fotografia mostra os
Líderes sentados em cadeiras de $2.500 e com um semblante de muita preocupação.
E
então o grupo solta outro comunicado à imprensa anunciando a criação de uma
estrutura permanente para futuras discussões sobre O Problema.
As
bolsas de valores ao redor do mundo sobem acentuadamente por um dia. E então, no dia seguinte, elas caem de volta
para o nível em que estavam no dia anterior ao comunicado à imprensa.
Eis
uma regra inquebrável: se houver uma terceira reunião de cúpula em um período
de três meses, é porque o sistema bancário está realmente com sérios
problemas. Se, entre a segunda e a
terceira reunião, houver algumas falências de bancos ou de corretoras dos quais
o público jamais ouviu falar, mas os quais revelaram possuir ativos de dezenas
de bilhões de dólares, então o pessoal do topo do monte estará em pânico. Eles estarão se
perguntando, "Quem será o próximo?" Cada
um deles irá pensar, "Talvez seja o meu banco".
Mas é claro que eles irão mencionar entre si apenas algum grande banco
que vem tentando há anos entrar nesse círculo de privilegiados, mas que ainda
não logrou êxito.
Múltiplas
e seguidas reuniões de cúpula que discutem exatamente o mesmo problema são um
sinal de que se trata de um problema que eles não estão conseguindo
resolver. O problema só faz piorar.
Reuniões de fim de semana
Uma
reunião de cúpula sempre começa em uma sexta-feira e acaba no domingo. O encontro sempre começa após as bolsas de
valores localizadas no mesmo fuso horário do hotel elegante já terem encerrado
o pregão do dia. Desta forma, o mercado
de ações dessa região não irá despencar, o que mandaria um sinal negativo para
os outros mercados ainda em funcionamento nas outras zonas horárias.
A
reunião de sábado é aquela na qual os líderes decidem quais questões serão
abrangidas pelo comunicado à imprensa de domingo. As principais áreas de discussão são as
seguintes:
- Qual a quantia de dinheiro de impostos o comunicado à imprensa irá mencionar?
- Quais países ou quais organizações internacionais mais perderão com esse
arranjo coletivo? Em que quantia?
- Quanto tempo irá levar para se conseguir o dinheiro emprestado, e de quem?
- Quanto tempo até que a quantia necessária de dinheiro seja coletada?
- Quem irá telefonar para o primeiro-ministro chinês implorando por novas rodadas
de compra de títulos?
As
discussões são muito francas. "Nem
pensem em jogar esse problema pra mim!
Quantas vezes vocês acham que eu posso ir aos meus eleitores pedindo
compreensão? Minha coalizão já está
prestes a se esfacelar!" "Como vamos
convencer os eleitores de que não estamos jogando o dinheiro deles no esgoto?" "Qual país cujos três maiores bancos irão
necessitar de uma nova rodada de injeção de fundos?" "Qual país cujos bancos poderão vir ao nosso
auxílio fornecendo os empréstimos necessários caso ofereçamos algumas
garantias?" E por aí vai.
E
então chega o domingo. Ninguém da
reunião vai à igreja. Como eles não
participam de cultos religiosos em seu país natal, qualquer indicação de que
estão necessitados de intervenção divina poderia mandar um sinal errado para os
mercados na segunda-feira.
No
domingo à tarde, eles emitem o comunicado à imprensa.
Se
eles esperarem até o final da tarde de domingo, os mercados abrirão na segunda
com uma queda de 1%.
Se
eles não anunciarem nenhuma decisão, os mercados irão abrir em queda de 3%.
O
comunicado à imprensa deve passar a impressão de que está dizendo alguma coisa
nova. Haverá um novo arcabouço para as
futuras discussões. O grupo prometeu um
total de [X] bilhões de euros, a ser pago ao governo de [Y]. Isso significa que os bancos que emprestaram
4X euros a Y não irão à bancarrota. Por
enquanto.
O
problema enfrentado pela reunião de cúpula deveria ser óbvio. Dado que os grandes bancos fizeram
empréstimos estúpidos — baseando-se em informações contábeis falsas fornecidas
pelo último governo do país em questão —, ninguém sabe ao certo quais bancos
possuem a classificação de crédito e o capital líquido suficiente para fazer os
empréstimos prometidos à agência intereuropeia de resgate. Toda a estrutura do sistema bancário está à
beira do abismo. Se dois ou três bancos
anunciarem que estão quebrados, como aconteceu recentemente com o MF Global e com o Dexia, haverá uma corrida em
manada dos hedge funds para realocar seus fundos remanescentes para aqueles bancos
que todos julgam ainda estarem saudáveis.
Quais bancos seriam esses?
Ninguém sabe. "Façam suas
apostas. O guichê já vai fechar."
As reuniões anuais do G-20
O
G-20 é uma organização especializada em soltar comunicados anuais à imprensa dizendo
que as condições financeiras mundiais estão sempre melhores do que estavam
quando da ocasião imediatamente anterior à última reunião. O último encontro agendado ocorreu na França,
nos dias 14 e 15 de outubro. Houve uma
reunião de emergência na semana passada.
Nunca
é demais analisar o website oficial
de qualquer organização do alto escalão da Nova Ordem Mundial. Tal tarefa requer uma tradução à parte, para
desemaranhar todo aquele palavreado aparentemente inócuo.
O G-20 foi estabelecido em 1999, logo após a Crise
Financeira Asiática de 1997, para reunir as principais economias desenvolvidas
e emergentes em um esforço de estabilizar o mercado financeiro global. Desde sua criação, o G20 realiza encontros
anuais entre ministros das finanças e presidentes de bancos centrais para
discutir medidas de promoção da estabilidade financeira mundial e de
desenvolvimento e crescimento econômico sustentável.
Tradução:
O G-20 foi criado para lidar com a primeira grande ameaça aos planos da Nova
Ordem Mundial de lançar o euro em 2000, medida essa que representa o primeiro
passo para a criação de uma moeda gerenciável em nível mundial.
Para atacar a crise financeira e econômica que se alastrou
por todo o globo em 2008, os membros do G-20 foram chamados a fortalecer ainda
mais a cooperação internacional.
Consequentemente, as reuniões de cúpula do G-20 ocorreram em Washington
em 2008, em Londres e Pittsburgh em 2009, e em Toronto e Seul em 2010.
Tradução:
o socorro à Ásia em 1998 manteve o sistema funcionando como deveria,
principalmente porque os asiáticos estavam vivenciando um crescimento
econômico. Isso tirou os bancos do
buraco. Porém, em 2008, uma cepa
diferente do vírus da "gripe asiática" contaminou o Ocidente. Isso vem exigindo encontros anuais para
tentar manter contidos os eminentes sinais de um colapso.
As ações coordenadas e decisivas do G-20, com sua
equilibrada participação de países desenvolvidos e em desenvolvimento, ajudou o
mundo a lidar de maneira eficaz com a crise financeira e econômica, de modo que
o G-20 já apresentou um número de resultados concretos e significativos:
Tradução:
quando uma reunião — da qual participam chefes de estado que entram e saem de
seus respectivos cargos em formato de rodízio (no Japão, vários em apenas um
ano) — diz solucionar os problemas financeiros mundiais em um encontro de
fim-de-semana que ocorre apenas uma vez a cada ano, e do qual só se produz um
comunicado à imprensa, pode estar certo de que há várias coisas ocorrendo por
trás dos panos entre um encontro e outro.
Dentre as quais:
Primeiro, o escopo da regulamentação financeira tem sido
enormemente ampliado, e a supervisão e regulamentação prudencial dos bancos tem
sido intensificada. Houve também um
enorme progresso na coordenação política graças à criação de um arcabouço que
permite um crescimento robusto, sustentável e equilibrado, criado para
aprimorar a cooperação macroeconômica entre os membros do G-20 e, por
conseguinte, mitigar o impacto da crise.
Finalmente, a governança global tem sido dramaticamente aprimorada para
levar em consideração com mais eficiência o papel e as necessidades de países
em desenvolvimento, especialmente por meio de reformas ambiciosas da governança
do FMI e do Banco Mundial.
Tradução:
a automática solução keynesiana para todos os problemas é uma só: mais
regulamentações. Em outros círculos,
isso é conhecido como trancar a porta do estábulo após o cavalo já ter fugido. O G-20 possui um arcabouço para um crescimento
equilibrado, cuja oferta tem sido escassa desde 2008. O FMI, por sua vez, se endividou pesadamente
para poder conceder empréstimos vultosos a ditadores do Terceiro Mundo, os
quais utilizaram esse dinheiro para aditivar suas contas bancárias na Suíça.
Baseando-se nos resultados destes importantes progressos, o
G-20 tem agora de se adaptar a um novo ambiente econômico. Ele deve comprovar ser capaz de coordenar as
políticas econômicas das principais economias mundiais, de modo contínuo.
Tradução:
o novo ambiente econômico é este: todo o sistema bancário de reservas
fracionárias está se esfacelando, e será necessário um pouco mais do que meros
comunicados à imprensa para mantê-lo operante.
Por trás do pano, cada governante está tentando jogar as responsabilidades
para os outros governantes. "Nossos
bancos estão em piores condições do que os seus bancos!"
2011 será a ocasião para se aproveitar os recentes sucessos
do G-20 e assegurar uma ativa continuação dos processos já iniciados. Será também o momento para abordar outras
questões essenciais que são cruciais para a estabilidade global, como a reforma
do sistema monetário internacional e a volatilidade dos preços das commodities.
Tradução:
"Estamos penando para conseguir manter o sistema coeso em decorrência de
inúmeras quebras. Isso é o máximo de
sucesso que podemos apresentar no momento.
Enquanto isso, os mercados estão tão voláteis que estão chamando a
atenção para o fato de que a combinação de inflação e recessão está se tornando
visivelmente perturbadora."
Realmente
acreditamos que os principais desafios econômicos da atualidade requerem uma
ação coletiva e ambiciosa, a qual o G-20 é capaz de impulsionar.
Tradução:
não sei o que "capaz de impulsionar" significa.
Desculpe.
Volatilidade revela instabilidade
As
bolsas de valores este ano refletiram a presença de pessimismos relacionados
(1) à iminente saída da Grécia da zona do euro, (2) à crescente probabilidade
da Grécia dar um calote em suas dívidas baseadas em euro, (3) aos prejuízos de
centenas de bilhões de euros sofridos pelos grandes bancos europeus, (4) à
ameaça de quebras bancárias na Itália após o governo grego dar seu calote, (5)
às trôpegas condições dos bancos portugueses e espanhóis, (6) à crescente
probabilidade de uma recessão mundial em 2012, e (7) ao medo de um evento 'cisne preto'
resultante de algum colapso à la
Dexia.
As
bolsas de valores também refletiram otimismos relacionados (1) ao poder
relaxante dos comunicados à imprensa emitidos pelas reuniões de cúpula, (2) à
esperança de que o banco central da China ainda continuará inflacionando sua
moeda para poder comprar títulos lastreados em euro (com isso mantendo sua
moeda desvalorizada e estimulando as exportações), (3) à esperança de que o
Federal Reserve irá fazer algo novo que, de alguma maneira, irá reverter as
coisas, (4) à esperança de que empresas com dinheiro em caixa irão anunciar
programas de recompra de ações com o intuito de fazer com que as compras de opções
sejam lucrativas para seus altos executivos.
As
bolsas de valores hoje estão mais voláteis do que jamais estiveram em épocas recentes. Quem aplica em bolsa já sentiu: ninguém sabe
o que está acontecendo. Para o cidadão
comum, as coisas não estão melhorando.
As girações das bolsas de valores são apenas ruídos. Ele está preocupado com seu emprego — e por
uma boa razão.
Conclusão
Os
Detentores do Poder estão enfrentando problemas que não desaparecerão. O núcleo do controle deles é o sistema
bancário de reservas fracionárias e o mercado para títulos governamentais
(dívida soberana). Ambos estão sob
enorme pressão. Ambos estão mostrando
sinais inéditos de vulnerabilidade.
As
reuniões de cúpula do euro estão se transformando em reality shows. Qual time
será o dos Sobreviventes? Merkel-Sarkozy? Papandreou-Berlusconi?
Enquanto
isso, a Estônia é a única nação no Ocidente que não está com problemas fiscais.
E
há também a Islândia.
A Islândia, cujos bancos deram um calote de $85 bilhões em
2008, completou em agosto um programa de 33 meses do Fundo Monetário Internacional. O Fundo projeta que a economia da Islândia
irá crescer mais do que a média da zona do euro neste ano e no ano seguinte. De acordo com o mercado de derivativos da
dívida, é mais barato fazer seguro contra um calote islandês do que fazer hedge
contra um evento qualquer no bloco monetário único europeu.
Islândia
e Estônia nunca foram convidadas para as reuniões de cúpula europeias. Ambas não estão no G-20. Há uma lição aí.