quarta-feira, 28 nov 2012
A
teoria econômica convencional afirma que desvalorizar a moeda de um país pode
ser algo bom para sua economia, dado que uma moeda mais fraca gera uma taxa de
câmbio mais desvalorizada, o que estimularia a produção industrial e
consequentemente as exportações e o emprego.
Isso geraria um crescimento econômico. Donde se conclui que, caso um país queira
vivenciar um crescimento econômico mais acelerado, a desvalorização da moeda
seria uma medida necessária.
Pensamento popular
De
acordo com o pensamento popular, o segredo para o crescimento econômico está na
demanda por bens e serviços. Afirma-se
que um aumento na demanda por bens e serviços gera crescimento econômico porque
tal aumento irá desencadear a produção de bens e serviços. Logo, aumentos ou reduções na demanda por
bens e serviços estariam por trás de aumentos e declínios na produção geral da
economia. Sendo assim, para manter a
economia crescendo, as políticas econômicas do governo têm se concentrar na
demanda geral, implementando medidas para estimulá-la.
É
fato que parte da demanda por produtos domésticos advém de países
estrangeiros. A acomodação desta demanda
é rotulada de exportações. Da mesma
maneira, os cidadãos locais também exercitam suas demandas por bens e serviços
produzidos no estrangeiro, o que é rotulado de importações. Observe que, ao passo que um aumento nas
exportações produz uma demanda geral pelos produtos domésticos, um aumento nas
importações reduz esta demanda. Donde se
conclui que as exportações, sempre de acordo com este pensamento, são um fator
que contribui para o crescimento econômico ao passo que as importações são um
fator que subtrai do crescimento da economia.
Dado
que a demanda internacional pelos bens e serviços de um país é um importante
ingrediente na determinação do ritmo do crescimento econômico, faz sentido,
segundo este pensamento, fazer com que os bens e serviços produzidos localmente
sejam atraentes para os estrangeiros.
Uma das maneiras de fazer com que os bens domesticamente produzidos
sejam mais demandados por estrangeiros é fazendo com que os preços destes bens
sejam mais atraentes para eles.
Por
exemplo, imagine que o preço de um saco de batatas no Brasil é de R$10 e de US$10
nos EUA. Imagine também que a taxa de câmbio entre o
dólar e o real é de 1:1. À taxa de
câmbio de 1 real por 1 dólar, um americano consegue, com US$10, comprar um saco
de batatas brasileiras.
Uma
das maneiras de os brasileiros estimularem sua competitividade é depreciando o
real em relação ao dólar. Suponhamos
que, em reação a um anúncio de que o Banco Central brasileiro está disposto a
afrouxar sua política monetária, a taxa de câmbio passe para R$2 por US$1. Consequentemente, isto significa que R$10
agora podem ser adquiridos com US$5, o que por sua vez implica que um saco de
batatas brasileiras agora custa US$5.
Consequentemente, um americano pode agora com US$10 comprar dois sacos
de batatas do Brasil em vez de apenas um, como ocorria antes da depreciação do
real. Em outras palavras, o poder de
compra dos americanos em relação às batatas brasileiras dobrou.
Se
aplicarmos o exemplo das batatas para todos os bens e serviços, podemos chegar
à conclusão de que, como resultado da depreciação da moeda, tudo o mais
constante, a demanda geral por bens produzidos domesticamente tenda a
aumentar. Isto, por sua vez, irá gerar
um superávit no balanço de pagamentos e, consequentemente, fortalecer o
crescimento do PIB. Observe que, para
estimular a demanda estrangeira, os brasileiros estão agora oferecendo dois
sacos de batatas em troca de um saco de batatas dos EUA. Isto também significa que o preço de um saco
de batatas americanas está agora duas vezes mais caro no Brasil em relação a
antes da depreciação do real. Muito
provavelmente, isto irá reduzir a demanda dos brasileiros por batatas
americanas. O que temos até agora, no
que concerne ao Brasil, são mais exportações e menos importações, algo que, de
acordo com o pensamento convencional, é uma ótima notícia para o crescimento
econômico brasileiro.
Igualmente,
à taxa de câmbio original de 1:1, uma redução nos preços domésticos das batatas
brasileira de R$10 para R$5 também permitiria a um americano trocar seus US$10
por dois sacos de batatas brasileiras.
Em suma, mudanças na taxa de câmbio ou mudanças nos preços nos
respectivos países irão determinar a chamada 'competitividade internacional', a
qual também é rotulada de taxa de câmbio real. Ela pode ser resumida na seguinte fórmula:
Taxa
de câmbio real = taxa de câmbio nominal x (preços estrangeiros/preços domésticos)
A
taxa de câmbio nominal é a quantidade de moeda nacional necessária para se
adquirir uma unidade de moeda estrangeira.
Uma desvalorização cambial
significa um aumento da taxa de
câmbio nominal (aumenta-se o número de reais necessários para se adquirir um
dólar).
De
acordo com esta expressão, um aumento na taxa de câmbio real (isto é, uma
desvalorização do câmbio real) implica um aumento na competitividade dos
produtos brasileiros no mercado internacional, e uma redução na taxa de câmbio
real (isto é, uma apreciação do câmbio real) significa uma queda nesta
competitividade internacional. Donde
que, seguindo-se esta equação, uma desvalorização da moeda nacional (uma
redução na quantidade de moeda estrangeira necessária para adquirir uma mesma
quantidade de moeda nacional) levará a uma desvalorização na taxa de câmbio
real e, consequentemente, a um aumento na competitividade internacional.
Já
uma queda nos preços estrangeiros levará a uma apreciação da taxa de câmbio
real, desta forma reduzindo a competitividade dos produtos brasileiros no
exterior. Seguindo-se este raciocínio
simples, conclui-se que a desvalorização da moeda nacional — tudo o mais
constante — é algo benéfico para o crescimento econômico.
Por que estimular exportações por meio da
desvalorização da moeda não pode fazer uma economia crescer continuamente
Quando
o Banco Central brasileiro anuncia que irá afrouxar a política monetária, isto
leva a uma rápida resposta dos agentes do mercado de câmbio: eles irão vender a
moeda nacional e adquirir moedas estrangeiras, o que irá levar a uma
depreciação da moeda nacional. Em
resposta a isso, vários produtores nacionais perceberão que agora está mais
atraente aumentar suas exportações. Para
financiar este aumento em sua produção, os produtores recorrerão aos bancos, os
quais, em decorrência das recentes injeções monetárias feitas pelo Banco
Central, concederão crédito a taxas de juros menores.
Fazendo
uso deste crédito recém-concedido, os produtores poderão agora adquirir os
recursos necessários para expandir sua produção de bens com o intuito de
acomodar a crescente demanda estrangeira.
Em outras palavras, por meio deste crédito recém-criado, os produtores
irão retirar recursos reais de outros setores da economia, desviando-os para si
próprios. Enquanto os preços domésticos
se mantiverem inalterados, os exportadores irão registrar um aumento nos
lucros.
No
entanto, este suposto aumento na competitividade gerado pela desvalorização da moeda
significa que os cidadãos brasileiros irão agora obter menos bens importados
para uma mesma quantidade de bens exportados.
Em suma, ao passo que o país está enriquecendo em termos de moeda
estrangeira (mais dólares estão entrando no país), ele está empobrecendo em
termos de riqueza real, isto é, em termos dos bens e serviços necessários para
manter o padrão de vida e o bem-estar das pessoas. A quantidade de bens na economia diminui
tanto em decorrência do aumento das exportações quanto em decorrência da
diminuição das importações.
À
medida que o tempo passa, os efeitos de uma política monetária frouxa começam a
fazer um efeito mais generalizado nos preços dos bens e serviços, e, no final,
tendem a solapar os lucros dos exportadores.
Em suma, um aumento nos preços põe um fim na ilusória tentativa de se
criar prosperidade econômica do nada, utilizando apenas manipulações monetárias
para este fim. De acordo com Ludwig von Mises
As tão faladas vantagens que a desvalorização proporciona
ao comércio exterior e ao turismo se devem inteiramente ao fato de que o ajuste
dos preços e salários domésticos ao estado de coisas criado pela desvalorização
requer algum tempo. Enquanto este
processo de ajustamento não se completa, as exportações são estimuladas e as
importações, desencorajadas. Não
obstante, isto significa apenas que, neste intervalo de tempo, os cidadãos do
país que desvalorizou sua moeda estão obtendo menos em troca do que estão vendendo
no exterior, e pagando mais pelo que estão comprando no exterior; o consumo
interno, consequentemente, sofre uma redução.
Este efeito pode parecer benéfico para aqueles que medem o bem-estar de
uma nação pela sua balança comercial. Em
linguagem clara, esta realidade pode ser descrita da seguinte forma: o cidadão
inglês precisa exportar mais bens ingleses para poder comprar aquela quantidade
de chá que corresponderia, antes da desvalorização, a uma menor quantidade de
bens ingleses.
Compare
esta política de desvalorização da moeda com uma política conservadora na qual
a moeda não se expande. Sob estas
condições, quando o conjunto da riqueza real do país está se expandindo — isto
é, quando a quantidade de bens e serviços está aumentando —, o poder de compra
da moeda nacional irá também aumentar.
Isto, tudo o mais constante, levará a uma valorização da moeda. Com a expansão da produção de bens e
serviços, e com a queda nos preços e nos custos de produção, os produtores
nacionais poderão aprimorar sua competitividade internacional e sua
lucratividade nos mercados estrangeiros ao mesmo tempo em que a moeda segue se
valorizando.
Por
outro lado, quando há uma política monetária frouxa, os ganhos obtidos pelos
exportadores são apenas temporários, e se dão à custa de outras atividades da
economia, as quais ficam privadas de recursos, como explicado acima. Já quando a política monetária é austera, os
ganhos obtidos não se dão à custa de ninguém; eles são apenas a manifestação da
criação de riqueza real.
Uma
moeda forte, além de permitir aos seus usuários desfrutar mais bens por meio de
mais importações, também lhes propicia uma maior qualidade de vida. Viagens internacionais e produtos eletrônicos
exóticos se tornam mais acessíveis aos consumidores. Os produtores nacionais, por sua vez,
conseguem acesso mais barato a recursos e a bens de capital estrangeiros. Ainda que seus preços de venda no mercado
interno se mantenham inalterados — em decorrência da solidez monetária — o resultado
é que seus lucros tendem a ser maiores.
Igualmente,
as exportações também tendem a aumentar.
A taxa de câmbio representa apenas uma fatia do custo total que os
estrangeiros têm de pagar para importar bens desta economia. Tão importante quanto a taxa de câmbio é o
custo deste bem em sua própria moeda nacional.
Que diferença faz para o importador dos bens da economia brasileira se,
por exemplo, o real está 10% mais barato em relação ao dólar e, ao mesmo tempo,
os preços domésticos no Brasil subiram também 10% em decorrência da inflação
monetária? O efeito é nulo. Por outro lado, com uma moeda forte
permitindo a importação maciça de bens de capital mais baratos, os custos de
produção tendem a cair e a produtividade tenda a aumentar, o que irá reduzir os
preços internos e, consequentemente, estimular as exportações. É assim que uma moeda forte estimula também o
setor exportador.
Conclusão
No
mundo atual, os bancos centrais agem coordenadamente, expandindo em sincronia a
oferta monetária de seus respectivos países de modo a manter as flutuações das
taxas de câmbio o mais estável possível.
Obviamente, durante este processo, tais políticas desencadeiam um
persistente processo de empobrecimento, pois o consumo não se dá de acordo com
a produção de riqueza real.
Adicionalmente,
neste arranjo, se um país tentar adquirir uma vantagem passageira por meio da
desvalorização de sua moeda — implantando uma política monetária mais frouxa
—, ele conseguirá apenas estimular os outros países a fazer a mesma
coisa. Consequentemente, o surgimento de
desvalorizações competitivas é a maneira mais garantida de se destruir a
economia de mercado e jogar o mundo em um prolongado período de crise.
Sobre
isso, Mises escreveu,
Uma aceitação geral dos princípios do câmbio flutuante irá
resultar em uma competição maléfica entre as nações, cada uma se esforçando
para desvalorizar mais do que a outra. Ao final dessa competição, os sistemas
monetários de todas as nações estarão arruinados.
Leia também: Uma moeda forte pode trazer desvantagens para os brasileiros?