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Quando é do interesse de ideólogos, a Alemanha vira keynesiana

Há mais de cinco anos, Paul Krugman vem vociferando contra a suposta austeridade dos países europeus.  Segundo ele, caso os governos da região não aumentassem imediatamente seus gastos e incorressem em grandes déficits orçamentários, suas economias estariam condenadas a uma eterna depressão.

Como um bom dogmático keynesiano, qualquer economia que opte pela suicida decisão de poupar mais e não se endividar excessivamente durante uma depressão irá necessariamente ficar em uma péssima situação: a demanda agregada irá despencar, as expectativas negativas irão se realimentar e a estagnação irá se converter em um mal endêmico e insuperável, a menos que haja algum estímulo estatal. 

Este é, ou deveria ser, o caso da Alemanha: foi com este cenário em mente que o Nobel americano prognosticou desde o início da recessão, em 2008, que o austericídio teutônico acabaria levando este país, bem como todo o resto da zona do euro, ao colapso.

Por exemplo, em 2010, após Angela Merkel ter aprovado um programa de moderação nos gastos, Krugman concedeu uma entrevista à revista Der Spiegel afirmando que "as políticas de ajuste alemãs não apenas afetam negativamente sua própria economia, como também reduzem o crescimento de todos os outros países".

O problema é que, desde então, a evolução vivenciada pela Alemanha foi exatamente contrária às previsões de Krugman: o PIB de 2013 está no nível mais elevado de sua história (e 3,4% maior em relação ao pico atingido antes da crise), e sua taxa de desemprego é a mais baixa (de 5,5%).

À luz dos dados, algo não se encaixa na teoria keynesiana: a Alemanha, rodeada de países insolventes e em profunda recessão, se encontra nas melhores condições econômicas de sua história.  A primeira argumentação a que poderia recorrer algum keynesiano seria a de alegar que a prosperidade da Alemanha foi construída à custa da depressão do resto da Europa: mais especificamente, dado que o euro implica taxas de câmbio fixas entre a Alemanha e os países do sul da Europa, a indústria exportadora alemã se torna assim capaz de vender quantidades estrondosas a seus parceiros europeus sem que sua moeda se aprecie e perca competitividade.

Com efeito, durante os primeiros anos da crise, esta foi exatamente a explicação apresentada por muitos keynesianos, mas Krugman está perfeitamente cônscio de que os fatos acabaram por desmenti-la: especialmente a partir da crise creditícia de 2012, os superávits comerciais da Alemanha dependem muito menos do resto da Europa e muito mais do resto do mundo.  Em 2012, por exemplo, menos de 10% de todas as exportações alemãs (e menos de 7,5% de seu superávit comercial) estavam vinculados a Espanha, Itália, Grécia, Portugal e Irlanda: não é uma cifra desprezível, mas também não parece ser a chave de sua prosperidade. 

Krugman sabe disso, e exatamente por causa disso ele já criou uma estratégia alternativa para blindar o dogma keynesiano deste contra-exemplo alemão: agora ele afirma que, na realidade, a Alemanha não tem sido um exemplo de austeridade.

Sim, sei que tal postura soa incrivelmente vigarista, mas é o que acaba de defender o economista americano.  No final de tudo, segundo Krugman nos relata, a Alemanha foi o segundo país da zona do euro que menos ajustou seu orçamento entre 2009 e 2013; foram os países do sul da Europa os que mais arcaram com o fardo dos ajustes e da austeridade, e não a Alemanha. 

É verdade que o governo alemão não incorreu em grandes ajustes orçamentários desde 2009, mas o fato é que ele não fez isso por uma razão muito simples: seu orçamento jamais esteve desajustado, isto é, o governo alemão jamais recorreu às políticas keynesianas que, segundo Krugman, são o ingrediente essencial para toda e qualquer recuperação.  O governo alemão não fez reajustes porque não houve desajustes.

Para comprovar isso, basta efetuarmos uma comparação entre Espanha e Alemanha.  Segundo esse novo gibi inventado por Krugman, a Espanha foi um dos países mais agressivos em termos de aplicação de austeridade, ao passo que a Alemanha foi um dos menos exigentes.  Pois bem: em 2013, o gasto total do governo espanhol foi 11% maior que o do ano de 2007; o do governo alemão foi de 15%.  O déficit orçamentário do governo espanhol foi de 7% em 2013; o governo alemão obteve um superávit de 0,1%.  O governo espanhol elevou seu endividamento em quase 60 pontos percentuais em relação ao PIB entre 2007 e 2013; o governo alemão elevou em 15 p.p. (no entanto, ainda mais significativo: desde 2010, o governo alemão reduziu em dois pontos percentuais sua dívida em relação ao PIB, ao passo que o governo espanhol a aumentou em 33 p.p.).

Os dois gráficos a seguir, que mostram a evolução dos déficits orçamentários desde 2007 (o melhor indicador de "estímulo"), exemplificam bem o quão fictícia é a alegação da "austeridade" espanhola e da "gastança" alemã:

germany-government-budget.png

Gráfico 1: evolução do déficit orçamentário do governo alemão: -7,72% do PIB acumulados desde 2007

spain-government-budget.png

Gráfico 2: evolução do déficit orçamentário do governo espanhol: -41,2% do PIB acumulados desde 2007. (Obs: o déficit do ano de 2013, que foi de 7%, ainda não foi publicado no gráfico acima).

Em suma, durante a crise, o governo alemão logrou manter suas finanças públicas relativamente em ordem; jamais exibiu um déficit superior a 4,5% do PIB e rapidamente aprovou programas de contenção de gastos para manter sob controle seu orçamento.  Já o "austero" governo espanhol não apenas sempre apresentou déficits acima de 4,5%, como também recorrentemente apresentou déficits na casa dos dois dígitos.

Ao passo que o déficit da — segundo Krugman — nada austera Alemanha é nulo, o déficit da — segundo Krugman — ultra-austera Espanha é um dos maiores do mundo.

Se houve um país que até muito recentemente aplicou políticas keynesianas (e que em grande medida continua fazendo isso), tal país foi sem dúvida a Espanha, e não a Alemanha.  Os alemães, por mais que agora Krugman tente ocultar o fato, foram um claro exemplo de austeridade e de rigor orçamentário durante esta crise.  Como também foram os países bálticos.

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Leia também:

A crucial diferença entre o mercado de trabalho na Espanha e na Alemanha

Explicando a recessão europeia



autor

Juan Ramón Rallo
é diretor do Instituto Juan de Mariana e professor associado de economia aplicada na Universidad Rey Juan Carlos, em Madri.  É o autor do livro Los Errores de la Vieja Economía.


  • Gilberto  18/03/2014 14:14
    A Alemanha que antes exportava capitais, agora está recebendo capitais dos demais países da Europa; Posso estar enganado mas esse dinheiro vindo de toda a Europa pra Alemanha pode estar causando uma expansão de crédito que levará a uma bolha no futuro.
  • Leandro  18/03/2014 14:21
    Por enquanto não há o mais mínimo sinal disso:

    Oferta monetária

    Expansão do crédito
  • Carlos  18/03/2014 14:33
    Caramba, é até contra intuitivo gastar numa crise ao invés de poupar. Diga para uma família em dificuldades que a solução dos problemas não é economizar na hora do banho, na energia e na água, nem rever a alimentação para comprar coisas baratas que sustentam o dia inteiro, como uma polenta ao invés de doces supérfluos e nem esperar para trocar de carro mas sim gastar bastante em roupas e guloseimas no cartão de crédito, trocar de carro pelo mais novo lançamento e tomar longos banhos quentes. Será que os keynesianos não conseguem ver quão ridícula é esta ideia? Então a solução para um inverno rigoroso não era estocar alimentos, mais sim comer tudo o que pudesse durante ele?
  • anônimo  18/03/2014 15:04
    Realmente não consigo entender como grande parte do mundo acredita nessas besteiras, embora saibam que esse não é um comportamento saudável pro individuo tem uma imaginação suficiente pra achar que é bom pro estado. É como se imaginassem que uma conta dá negativo, e somando muitos negativos por algum motivo ficaria positiva...

    É tão obvio que qualquer pessoa com a mínima experiencia em economia pensaria na solução correta de poupar em crises. Por isso é preciso tanto tempo numa faculdade pra aprender economia, é preciso retirar o óbvio da cabeça das pessoas e implantar uma ideia sem fundamentos, não deve ser facil
  • André  18/03/2014 15:41
    "Por isso é preciso tanto tempo numa faculdade pra aprender economia, é preciso retirar o óbvio da cabeça das pessoas e implantar uma ideia sem fundamentos, não deve ser facil".

    Hahaha, genial!
    Dá até pra fazer um meme disso:

    Estudante de economia na primeira aula da faculdade:
    Professor: O que você acha que um país deve fazer durante um crise: gastar mais ou poupar?
    Aluno: Poupar, é claro!
    Professor: Seu BURRO!!! A solução para se sair de qualquer crise é gastar mais e se endividar!
    Aluno: Então se eu perder o emprego, ao invés de poupar e economizar até conseguir outro emprego devo torrar tudo, gastar os cartões de crédito até o limite, e fazer outros empréstimos para poder gastar mais?

    Então o professor faz aquela cara de paisagem...
  • Tiago Moraes  20/03/2014 14:37
    Não é tão simples assim, o professor dirá que sob um enfoque Macro a abordagem seria diferente da abordagem Micro, ele dirá que sua análise Micro só diz respeito à você, pois ainda que seja ruim para você se endividar quando desempregado, o aumento de gastos que você fará, estará a beneficiar terceiros que nada tem a ver com sua situação trabalhista, aí é só derivar para a esfera Macro e o professor keynesiano te dirá que se todos pouparem, todos perderão seus empregados, pois o consumo agregado irá cair e afetar o emprego dos fatores de produção de toda a economia. Então, se você não tiver argumentos para fazer a tréplica, o professor keynesiano irá vencer a discussão, ainda que continue falando bobagem.
  • Carlos  23/03/2014 01:26
    Ora, como numa sociedade tão grande todos estariam poupando ao mesmo tempo? Não haveria alguém ávido por lucro acreditando numa ideia de investimento? Vendo que muitos estão economizando não viria alguém que já tivesse um capital ou conseguisse um financiamento para sanar uma necessidade do mercado? A todo momento há necessidades, o homem a todo momento tem sonhos e desejos. Se algum setor quebrar que seja, não tenhamos dó. Se o serviço que ele oferecia estiver fazendo falta muitos perceberão e o reformularam no momento de necessidade.
  • Diones Reis  18/03/2014 15:34
    Com a introdução do salário mínimo, Krugman vai dar um refresco para a Alemanha?

    Isto será bom ou ruim para a Alemanha?

    www.thelocal.de/20131121/germany-to-introduce-minimum-wage
  • Leandro  18/03/2014 15:43
    Primeiro ele vai aguardar os resultados. Depois, só depois, é que ele vai emitir uma opinião a respeito, a qual será balizada de acordo com os resultados.

    Se o desemprego aumentar, ele vai dizer que a culpa é de uma suposta "recaída austericida", e nem falará nada de salário mínimo (que, aliás, foi uma imposição do governo francês através da Comissão Europeia). Se o desemprego cair, ele vai dizer que se trata de um efeito benéfico exclusivo do salário mínimo, mas sem se dar ao trabalho de como funcionaria essa estranha relação de causalidade.

    Se o desemprego não se alterar e nada de diferente ocorrer, ele vai dizer que o valor do salário mínimo está muito baixo, e isso representa uma desumana austeridade.
  • Tiago RC  18/03/2014 15:52
    "Os alemães, por mais que agora Krugman tente ocultar o fato, foram um claro exemplo de austeridade e de rigor orçamentário durante esta crise. "

    Também não vamos forçar a barra. Um "claro exemplo de austeridade e de rigor orçamentário" seria um governo que sempre apresente superávits. A Alemanha teve vários anos de déficit, e se não me engano a dívida ultrapassa 80% do PIB. Não é nenhum exemplo de austeridade isso.
    Desconheço um governo que seja, diga-se de passagem. "Governo austero" me soa um pouco como "alcoólatra sóbrio" ou algo assim.
  • Leandro  18/03/2014 17:52
    Concordo, mas há dois pontos cruciais:

    1) A Alemanha equilibrou seu orçamento justamente durante a crise, algo bastante raro. Antes da crise -- ou seja, na época do boom -- havia apenas déficits. Pode conferir.

    2) Levando-se em conta todo o resto da Europa -- aliás, o resto do mundo --, a situação orçamentária da Alemanha de fato de austeridade. Afinal, apresentar superávit nominal (ainda que de apenas 0,1%) no atual arranjo econômico mundial não é para qualquer um. Apenas a Noruega e demais países do Oriente Médio (que têm receitas de petróleo) conseguem isso.
  • Pedro Ivo  22/03/2014 12:01
    Leandro, e a Noruega? Como anda a surfar estas ondas? Recomende-me algo para ler, ou até melhor, publique algo cá no IMB.

    Pergunto porque sempre ouço falarem tudo de bom sobre este país, mas nunca li nada de fundamentado a respeito.
  • Leandro  23/03/2014 01:15
    A Noruega é um caso totalmente a parte. O país pode se dar a vários luxos porque literalmente está boiando sobre petróleo, cujas receitas de exportação garantem ao governo um superávit orçamentário de incríveis 10%. Exatamente por causa desta excepcionalidade, a Noruega pode se entregar a vários exotismos estatais e assistencialistas. Retire o petróleo da Noruega e a coisa ficará bastante curiosa.

    Como comparação, a Suécia, que não tem essa sorte geológica, possui uma economia mais livre que a Noruega (menos regulamentações, mais livre comércio). E tem de ser mais livre porque, se não fosse mais livre, não teria como ela produzir a riqueza necessária para sustentar seu estado. Se a Noruega perdesse o petróleo, e mantivesse exatamente a mesma estrutura econômica de hoje, a teoria ensina que ela seria pior que a Suécia.
  • anônimo  18/03/2014 17:08
    Como um quadrúpede desse ganha um Nobel?
    Esse Krugman é uma anta!
  • anonimo  18/03/2014 22:13
    Na verdade o Nobel de economia não é um Nobel propriamente dito, está mais para um "prêmio em homenagem ao prêmio Nobel" e é dado pelo banco central da Suécia, então creio que há um certo interesse em dar para economistas que defendem governos fortes e banco centrais fortes

    Obrigado.
  • Marconi  18/03/2014 17:27
    "Caramba, é até contra intuitivo gastar numa crise ao invés de poupar."

    Aumentar o déficit orçamentário, visando controlar as expectativas pode surgir efeito no curto prazo, evitando uma depressão violenta com ocorreu em 1929 (e 2008). Fora esses casos extremos (depressão), não faz mesmo sentido.

    A economia é como uma roda. A própria teoria austríaca diz que o dinheiro jogado na economia cria uma prosperidade (mesmo que "artificial", momentânea), ao elevar as demandas. O emprego sobe, a renda sobe, etc.

    Assim, se, por simples más expectativas, a roda da economia começa a "girar pra trás", então um estímulo pode jogá-la de volta a realidade.

    O padeiro que quer comprar uma bicicleta, fica com medo de fazer pão pois acha que não vai vender bem e "prefere" (POR MEDO) poupar seu dinheiro a comprar uma bicicleta. O cara que faz bicicletas e quer comprar pão "prefere" (POR MEDO) adiar seu consumo de pão, pois acha que não vai vender bem suas bicicletas. O padeiro fica ocioso e não consome. O cara da bicicleta fica ocioso e não consome.

    O estado não pode ser visto exatamente como um indíviduo com cartão de crédito no limite. Ele pode, por exemplo, "garantir" ao padeiro e ao cara da bicicleta que comprará seus produtos, alterando suas expectativas. Assim, o padeiro compra a bicicleta e o cara da bicicleta compra pão e, na realidade, o estado não precisa comprar nada, só alterando as expectativas.

    Assim, uma injeção de dinheiro pode funcionar, fazendo com que esse medo infundado se dissipe e a produção siga adiante. O problema é que, regra geral, os estados abusam desse poder e avacalham tudo.
  • Leandro  18/03/2014 18:06
    "Aumentar o déficit orçamentário, visando controlar as expectativas pode surgir efeito no curto prazo, evitando uma depressão violenta com ocorreu em 1929 (e 2008)."

    Nonsense e contradição. O governo estourar seu orçamento é justamente o que piora as expectativas. Estouro de orçamento não pode melhorar as expectativas. Isso é contra lógica.

    Aliás, qualquer pessoa que viva hoje no Brasil e esteja testeminhando como o governo vem causando incertezas não pode se dar ao luxo de seguir ignorando essa regra básica.

    Essa piora das expectativas foi também justamente o que ocorreu nos EUA a partir de 2008. Também ocorreu no Reino Unido e no resto da Europa. Com expectativas negativas, ninguém arrisca, ninguém investe.

    "A economia é como uma roda. A própria teoria austríaca diz que o dinheiro jogado na economia cria uma prosperidade (mesmo que "artificial", momentânea), ao elevar as demandas. O emprego sobe, a renda sobe, etc."

    Isso acontece quando o dinheiro entra na economia via empréstimos para pessoas e empresas, e não via déficits governamentais. Você que é fã de Adam Smith e da Escola de Chicago está cuspindo no legado de ambos.

    "Assim, se, por simples más expectativas, a roda da economia começa a "girar pra trás", então um estímulo pode jogá-la de volta a realidade."

    Ao contrário: déficits governamentais irão aumentar as incertezas, o que irá girar a roda para trás com um torque ainda maior.

    "O padeiro que quer comprar uma bicicleta, fica com medo de fazer pão pois acha que não vai vender bem e "prefere" (POR MEDO) poupar seu dinheiro a comprar uma bicicleta. O cara que faz bicicletas e quer comprar pão "prefere" (POR MEDO) adiar seu consumo de pão, pois acha que não vai vender bem suas bicicletas. O padeiro fica ocioso e não consome. O cara da bicicleta fica ocioso e não consome."

    Esse é um lado da equação. O outro lado, que você ignorou, é que ambos optaram por poupar, o que irá aumentar seu poder de compra e de investimento futuros.

    "O estado não pode ser visto exatamente como um indíviduo com cartão de crédito no limite. Ele pode, por exemplo, "garantir" ao padeiro e ao cara da bicicleta que comprará seus produtos, alterando suas expectativas. Assim, o padeiro compra a bicicleta e o cara da bicicleta compra pão e, na realidade, o estado não precisa comprar nada, só alterando as expectativas."

    O estado de fato pode alterar expectativas. Mas déficits irão alterá-las para pior.

    E nem é preciso recorrer ao exemplo estrangeiro, não: pode ver o que ocorreu no Brasil a partir de meados de 2003, quando os investidores se convenceram de que -- ao menos naquele momento --, Banco Central e Fazenda estavam sendo comandados por pessoas realmente comprometidas com estabilidade orçamentária (lembra-se do Palocci anunciando superávit primário de quase 5% do PIB?) e com controle da inflação de preços (SELIC a 26,5% em meados de 2003).

    "Assim, uma injeção de dinheiro pode funcionar, fazendo com que esse medo infundado se dissipe e a produção siga adiante. O problema é que, regra geral, os estados abusam desse poder e avacalham tudo."

    De novo: só se a injeção ocorrer via empréstimos para pessoas e empresas, e não via déficits orçamentários.
  • Marconi  18/03/2014 20:02
    É, tem razão! Me expressei mal.

    O que eu quis dizer, na verdade, é que, se o governo aumentar os seus gastos ou forçar a queda de juros, aumentando o crédito para pessoas e empresas (consequentemente a quantidade de dinheiro em circulação), ainda que aumente temporariamente o déficit orçamentário, isso pode colocar a economia nos eixos, se a situação é de "excesso de expectativas negativas" (1929).

  • Leandro  18/03/2014 22:19
    Isso é justamente o que vem ocorrendo desde 2009 nos EUA e na Europa. Não funcionou -- ao contrário, as expectativas só pioraram.
  • Daniel  19/03/2014 12:19
    "De novo: só se a injeção ocorrer via empréstimos para pessoas e empresas, e não via déficits orçamentários."

    Está um pouco confuso, pode abrir espaço para a interpretação de que injeção via repasse de moeda criada do nada, por meio dos bancos, para pessoas e empresas pode colocar a economia nos eixos
  • Leandro  19/03/2014 12:36
    A discussão é sobre os efeitos imediatos, de curto prazo. Se houver uma forte expansão creditícia -- isto é, se pessoas e empresas saírem pegando empréstimos bancários para consumir e investir, aumentando a oferta monetária --, então sim, haverá uma retomada dos números do PIB. Isso ocorreu em 2009 no Brasil.

    Mas isso, obviamente, não significa que a estrutura do capital da economia estará sanada. Ao contrário até: os desequilíbrios não apenas estarão sendo perpetuados, como estar-se-á criando uma situação ainda mais insustentável, que inevitavelmente estourará lá na frente.

    Porém, no curto prazo, a medida de fato aditiva alguns números do PIB. E, em uma democracia, governos só se preocupam com efeitos imediatos.
  • Daniel  19/03/2014 14:13
    Concordo com o que você falou, mas a retomada dos números do PIB em 2009 só ocorreu devido à capacidade ociosa da economia à época, principalmente no que diz respeito a absorção da mão de obra que não estava empregada. Efeitos imediatos de curto prazo só são observados quando a economia não opera no "limite" de sua capacidade produtiva, e por mais que o governo injete moeda e expanda o crédito, isso não significa que os número do PIB serão aditivados. Se isso não fosse verdade, era para o PIB do Brasil ter aumentado em vários pontos percentuais em 2012/2013.
    Ou estou enganado?

    Agora a frase: "E, em uma democracia, governos só se preocupam com efeitos imediatos." é perfeita. Não há nada mais verdadeiro do que o fato de que a política sempre ditará os rumos da economia, e acreditar em um BC independente é ingenuidade.
  • Leandro  19/03/2014 14:49
    "mas a retomada dos números do PIB em 2009 só ocorreu devido à capacidade ociosa da economia à época, principalmente no que diz respeito a absorção da mão de obra que não estava empregada."

    Isso é um tanto forçado. A economia vinha crescendo de forma vigorosa desde 2004. Em 2006, o crescimento foi de 4%. Em 2007, de 6,1%. E em 2008, de 5,2%. Em dezembro de 2008, o desemprego havia sido o mais baixo em décadas.

    Havia, sim, alguma capacidade ociosa, mas não esse tanto. E o preenchimento desta capacidade ociosa não explica toda a recuperação. Ainda mais importante: essa capacidade ociosa só voltou a ser preenchida porque o crédito voltou a expandir.

    "Efeitos imediatos de curto prazo só são observados quando a economia não opera no "limite" de sua capacidade produtiva, e por mais que o governo injete moeda e expanda o crédito, isso não significa que os número do PIB serão aditivados."

    Na verdade, significa sim. Se os bancos -- atenção: são os bancos que expandem o crédito e criam moeda, e não o governo -- estão concedendo empréstimos, então haverá pessoas e empresas gastando. E é isso o que é computado pelo PIB.

    Podemos aqui questionar a validade da metodologia de cálculo do PIB (e esse site tem vários artigos sobre isso), mas o fato é que é a expansão do crédito o que governa o PIB. Se a taxa de expansão do crédito é crescente, o PIB vai junto. Não há exceção a essa correlação.

    "Se isso não fosse verdade, era para o PIB do Brasil ter aumentado em vários pontos percentuais em 2012/2013. Ou estou enganado?"

    Enganado. A taxa de expansão do crédito foi decrescente em 2011 e 2012, e estável em 2013. Há um gráfico exatamente disso neste artigo (gráfico 7). A taxa de crescimento caiu de 22% para 14%. Se a taxa é decrescente, o PIB é decrescente. Tanto é que o PIB foi de 2,7% em 2011 e de 0,9% em 2012. Em 2013, em decorrência do fato de a taxa ter se estabilizado (o que, em termos matemáticos, indica uma pequena acelerada), o PIB foi maior que em 2012.

    Grande abraço!
  • Daniel  19/03/2014 15:36
    Não conhecia esses números, nem essa relação crédito X PIB.

    Realmente o problema está na metodologia do cálculo do PIB. Expandir o crédito estimulando o consumo e investimento "irresponsáveis" por parte de pessoas e empresas com o objetivo de obter um PIB maior, e uma sensação de riqueza que não existe, é algo muito errado.

    Só ainda não concordo com o que disse a respeito de serem os bancos os responsáveis pela criação de moeda. Concordo que na ponta, são sim os bancos, mas quem dita a quantidade de moeda que eles irão emprestar é o BC, e quem manda no BC é o governo (principalmente no caso brasileiro). Ou estou enganado de novo?

    Obrigado!
  • Leandro  19/03/2014 15:50
    Os bancos expandem o crédito, e o BC acomoda essa expansão.

    De um lado, é verdade que, sem o BC, a expansão do crédito seria bem menos e mais comedida; de outro, o BC não tem como obrigar os bancos a expandirem o crédito. Se os bancos repentinamente se tornarem cautelosos e restringirem a criação de crédito, o BC nada pode fazer.

    Em suma: quem realmente apita na expansão do crédito são os bancos. O BC apenas os protege e facilita suas vidas.

    Recomendo este artigo:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=1387
  • Emerson Luis, um Psicologo  18/03/2014 17:28

    Se os fatos não confirmam a teoria, mude... os fatos!

    * * *
  • Rene  18/03/2014 18:37
    Esta nova posição de Krugman já não é apenas um erro de análise. Isso se configura como vigarice pura e simples. Uma coisa é você cometer um erro, algo que todo mundo está sujeito. Outra completamente diferente é você errar e num segund momento, com a maior cara de pau, fingir que disse exatamente o contrário do que falou antes.

    Esta mudança de estratégia demonstra que ele sabe que as teorias keynesianas não funcionam no mundo real. Não se pode debater com pessas assim. Ao invés disso, deve-se desmascará-lo como o charlatão que ele é.
  • John  18/03/2014 19:17
    Bom artigo, sempre bom ver como as opiniões/teorias variam com os acontecimentos.

    Mas é melhor olhar os números absolutos dos gastos: "em 2013, o gasto total do governo espanhol foi 11% maior que o do ano de 2007; o do governo alemão foi de 15%"

    Acho que seria mais preciso dizer que nenhum dos dois praticou austeridade. A Alemanha aumentou mais seus gastos do que a Espanha, mas reduziu o déficit em relação ao PIB pq seu PIB cresceu. A Espanha não só não cortou gastos, como viu seu PIB cair, o que manteve a relação deficit/pib alta.

    Olhando só para a Alemanha um keynesiano poderia dizer que sua teoria é correta. Já olhando para a Espanha, não.

  • Leandro  18/03/2014 19:34
    Gastos nominais do governo sempre aumentam. Isso é quase que uma inevitabilidade. Aliás, isso ocorreria mesmo com um governo apresentando superávit nominal.

    À medida que a quantidade de dinheiro na economia vai se expandindo -- em decorrência de empréstimos --, as receitas do governo também aumentam. Inercialmente. Com mais receitas, o governo incorrerá em mais gastos.

    Não me recordo, de cabeça, de um governo que tenha cortado gastos em termos nominais.

    Por isso, déficits acabam sendo o melhor indicador da propensão de um governo ao estímulo.
  • Rafael Osorio  18/03/2014 19:49
    Desculpem-me minha ignorância economica, mas fui checar o balanço brasileiro (no mesmo site dos gráficos) e país só apresenta superávit.
    Isso esta correto? Ou esses dados são maquiados? Visto que são do Banco Central.

    Obrigado em avanço
  • Leandro  18/03/2014 20:01
    Os números ali para o Brasil são do superávit primário, uma excrescência inventada pelo FMI, que se aplica apenas a alguns países em desenvolvimento, mas que, como se vê, segue enganando vários trouxas.

    Todos os países desenvolvidos divulgam seu déficit nominal. Para o déficit nominal do Brasil veja a primeira linha desta tabela.

    www.bcb.gov.br/pec/Indeco/Port/ie4-28.xls

    Obs: como se trata de uma "necessidade de financiamento", números positivos significam déficit e números negativos significam superávit.
  • Luciano  20/03/2014 02:05
    Leandro, o superávit nominal seria uma situação na qual o governo rouba mais do que gasta, correto?

    Sendo assim, o que seria exatamente o superávit primário? Seria um tipo de superávit relativo ou percentual?

    Abraços.
  • Leandro  20/03/2014 03:20
    No Brasil, por imposição do FMI, foram inventados dois conceitos para as contas públicas: o primário e o nominal.

    A diferença entre eles é que o primário não leva em conta os gastos com juros.

    Imagine que você tenha renda total mensal de R$ 10.000. Imagine também que seus gastos correntes (conta de luz, condomínio, internet, TV a cabo, alimentação, escola dos filhos, vestuário, lazer etc.) sejam de R$ 8.000.

    Teoricamente, você está tendo uma poupança de R$ 2.000 por mês.

    Entretanto, não incluso nesses seus gastos correntes está o pagamento de juros de uma dívida que você contraiu há alguns meses, quando comprou um apartamento financiado. As prestações mensais custam R$ 3.000.

    Se você disser que está poupando R$ 2.000 por mês, você estará mentindo fragorosamente. A realidade é que você está tendo gastos maiores que sua receita. Embora você ganhe R$ 10.000, você está gastando R$ 11.000 — ou seja, sua despesa total é R$ 1.000 maior que sua receita.

    Um economista governamental diria que você tem um superávit primário de R$ 2.000. Um economista mais realista diria que você, na verdade, está tendo um déficit nominal de R$ 1.000, e que é esse número que interessa.
  • Luciano  23/03/2014 04:14
    Valeu pela resposta, Leandro.

    Ou seja, superávit primário foi um belo truque do FMI que acabou pegando bem para os governos daqui.

    Fico imaginando como os hipócritas agem ao criticar o FMI e, ao mesmo tempo, utilizarem uma metodologia criada pelo fundo para manterem as pessoas iludidas com as contas públicas.

    Abraços.
  • Leandro  27/03/2014 19:42
    Aproveitando a deixa, tem de ser muito artista para conseguir isso:

    Contas do governo central têm déficit primário de R$ 3 bi em fevereiro

    As contas do governo central, formado por Tesouro, Previdência e Banco Central, tiveram um déficit primário de R$ 3,078 bilhões em fevereiro - ou seja, não houve economia para pagamento de juros da dívida pública. Esse é o segundo mês consecutivo que o governo apresenta um resultado ruim.

    economia.estadao.com.br/noticias/economia-geral,contas-do-governo-central-tem-deficit-primario-de-r-3-bi-em-fevereiro,180592,0.htm
  • Henrique  18/03/2014 22:08
    Leandro, vi um vídeo do Peter Schiff dizendo que em 2014 pode ser declarada lei marcial nos EUA devido ao caos econômico que se seguiria caso o dólar deixasse de ser a moeda de reserva internacional.
    Tudo isso é para vender ouro?
  • Leandro  18/03/2014 22:12
    Não sei. Ele certamente conhece detalhes da economia americana melhor do que eu. Mas não visualizo este cenário aí, não. (E também não vi esse vídeo, de modo que não sei o quão acurado é o seu relato).
  • Henrique  19/03/2014 00:29
    Este vídeo:
    https://www.youtube.com/watch?v=t_Z_6vbY33U

    Será que é isso? O Peter Schiff está pintando uma visão catastrofista para vender ouro?
  • Henrique  19/03/2014 00:32
    Leandro, me desculpa. O Peter Schiff não falou especificamente 2014.
  • OLIVEIRA  18/03/2014 23:40
    ....Voçe imagina que A OCIDENTAL, absorveu uma UMA ORIENTAL falida,anacrônica,etc.Que DESEMPENHO e MAGNIUDE em FINANÇAS PÚBLICAS E ESTADISMO.
  • Posidone  19/03/2014 03:00
    olá a todos,
    meus parabéns pelo site,
    abaixo, para quem ainda não leu,
    o artigo que acabou de ser publicado na The Economist,
    [apesar de que tem prevalecido sua tendência de decadência ideológica
    do que já foi uma grande publicação, caminhando para um monólogo
    de intervencionismo e internacionalismo anti-soberanias ao
    melhor estilo dos partido democrata americano, bancada de New York].

    Desculpem por não ter tido tempo de traduzir para quem não em inglês,
    mas as generosas almas aqui talvez se adiantem, e para quem não quer esperar
    por uma tradução de qualidade tem o google translator.


    Keynes and Hayek
    Prophets for today
    Mar 14th 2014, 16:43 by C.R. | LONDON


    ON MARCH 10th 1944, seventy years ago this month, a relatively-obscure Austrian émigré published a book that would become one of the great classics of 20th-century economic literature. The new economic ideas of John Maynard Keynes were much in fashion in that period; this new book judged them rather harshly.

    The dissenter from the growing consensus around Keynes was Friedrich von Hayek, an economist from Vienna. The book was the "Road to Serfdom", in which Hayek argued that the extension of central planning is the start of the growth of constraints on individual liberty, which inevitably leads to the emergence of tyrannical regimes, both communist and fascist in nature. It was the culmination of four years' work—and several decades challenging many of Keynes' new economic theories, particularly on what governments should do during depressions.

    That has often been portrayed more recently as a battle between two economic titans. Hayek, in the 1970s, came to be seen as opposing everything Keynes and the Keynesian consensus stood for. More recently, many see the change towards more free-market ideas since the 1980s as the victory of Hayek's ideas over Keynes'—a process that has since reversed as a result of the Great Recession. This academic battle of ideas has even made its way into popular media. On Youtube, there is a series of rap parody videos of the academic battle between Keynes and Hayek, available here, here and here.

    But Keynes himself in fact did not dislike many of Hayek's ideas in the "Road to Serfdom". On the contrary, he had indirectly helped Hayek to write it. When Hayek and the rest of the London School of Economics moved to Cambridge in 1940 to escape the Blitz in London, Keynes found him rooms at his college, King's, to live and work in, and the two remained in regular contact until Keynes' death in 1946. Ideologically, they also sang from the same hymn sheet: both were liberals with a distaste for authoritarian regimes such as communism and fascism. Keynes agreed with Hayek that fascism was not a healthy reaction against communism, as many contemporaries in Britain thought, but was instead equally dangerous for liberalism.

    Keynes rejected the populist interpretation of Hayek's argument—that any increase in state planning is the first step on the way to tyranny—but agreed with the overall view that the bounds of state intervention needed to be clearly defined for liberal democracy to remain safe (and more explicitly than even Hayek himself did in the book). Receiving an early copy of the "Road to Serfdom" from Hayek personally, Keynes wrote back to him, praising the book. But Keynes thought Hayek should have been more explicit in what sort of red lines would be necessary for increased state intervention not to imperil liberty:

    You admit here and there that it is a question of knowing where to draw the line. You agree that the line has to be drawn somewhere, and that the logical extreme [total lassiez-faire policies] is not possible. But you give us no guidance as to where to draw it...as soon as you admit that the extreme is not possible and that a line has to be drawn, you are, on your own argument, done for, since you are trying to persuade us that as soon as one moves an inch in the planned direction you are necessarily launched on the slippery slope which will lead you in due course over the precipice.
    In short, Keynes took the lessons of Hayek's work as a warning that the expansion of state should be limited and politicians need to know when to stop—which he fundamentally agreed with. Although he thought more state control in some areas may be justified, governments always need to demark a line beyond which they do not traverse. That may be a lesson not only relevant for then, but also for our time as well.
  • Mauricio.  19/03/2014 03:07
    Se eu fosse um cara menos educado diria: chupa Krugman!
  • Posidone  19/03/2014 03:11
    complementando, melhor estilo partido democrata americano, bancada de New York, farinha do mesmo saco que o establishment dos canais de tv dos EUA, o New York Times e um dos jornalistas deste em particular, sim ele, Krugman, sobrenome quase alemão(Ydiche) mas cheio de ódio anti-germânico, recordista mundial em sem-vergonhices em nome da Economia, e prova viva que o Nobel de Economia tá valendo tanto como o Nobel da Paz para corruptos-nepotistas-cronistas como Kofi Annan ou as capas da times e newsweek em honra de Mussolini e Saddam Hussein hehehe
  • Felipe   19/03/2014 12:57
    www.cartacapital.com.br/revista/791/201co-brasil-nao-esta-vulneravel201d-6112.html

    E a mentira continua...
  • anônimo  19/03/2014 14:35
    Keynes e Hayek
    Profetas para os dias de hoje

    Em 10 de março de 1944, 70 anos atrás, neste mês , um imigrante austríaco relativamente obscuro publicou um livro que se tornaria um dos grandes clássicos da literatura econômica do século 20. As novas idéias econômicas de John Maynard Keynes estavam muito voga nesse período; o novo livro os julgou de maneira bastante dura.

    O dissidente do crescente consenso em torno de Keynes era Friedrich von Hayek, um economista de Viena. O livro foi "O caminho da servidão", no qual Hayek argumentou que a extensão do planejamento central é o início do crescimento das restrições à liberdade individual, o que inevitavelmente leva ao surgimento de regimes tirânicos, tanto comunista quanto fascista na natureza. Foi o ápice de quatro anos trabalho e de décadas de trabalho desafiando as novas teorias econômicas de Keynes, particularmente sobre o que os governos devem fazer durante as depressões.

    Isso tem sido muitas vezes retratado recentemente, como uma batalha entre dois titãs da economia. Hayek, na década de 1970, passou a ser visto como opositor de tudo o que Keynes e o consenso keynesiano representava. Mais recentemente, muitos vêem a mudança para mais idéias de livre mercado desde a década de 1980 como a vitória das idéias de Hayek sobre Keynes - um processo que, desde então, tem sido revertido como resultado da Grande Recessão. Esta batalha acadêmica de idéias tem feito sucesso ainda em meios populares. No Youtube, há uma série de vídeos de rap paródia da batalha acadêmica entre Keynes e Hayek, disponível aqui, aqui e aqui.

    Mas o próprio Keynes, de fato, não desagrada muitas das idéias de Hayek no "Caminho da Servidão " . Pelo contrário , ele indiretamente ajudou Hayek a escrevê-lo. Quando Hayek e o resto da Escola de Economia de Londres mudou-se para Cambridge, em 1940, para escapar da Blitz, em Londres, Keynes o encontrou nos quartos do King's College, para viver e trabalhar e os dois permaneceram em contato regular até o falecimento de Keynes, em 1946. Ideologicamente, eles também beberam da mesma fonte: ambos eram liberais com um desgosto pelos regimes autoritários como o comunismo e fascismo. Keynes concordou com Hayek que o fascismo não foi uma reação saudável contra o comunismo, como muitos contemporâneos na Grã-Bretanha pensavam, mas que este era igualmente perigoso para o liberalismo.

    Keynes rejeitou a interpretação populista de Hayek do argumento de que qualquer aumento no planejamento estatal é o primeiro passo no caminho para a tirania, mas concordou com a opinião geral de que os limites da intervenção do Estado precisavam ser claramente definidos para a democracia liberal para permanecer segura (e mais explicitamente do que até mesmo o próprio Hayek fez no livro). Recebendo uma cópia antecipada de "O Caminho da Servidão" pessoalmente de Hayek, Keynes escreveu de volta para ele, elogiando o livro. Mas Keynes pensava que Hayek deveria ter sido mais explícito em que tipo de linhas vermelhas seriam necessárias para a intervenção do Estado aumentar e não pôr em perigo a liberdade:

    -Você admite aqui e ali que é uma questão de saber onde traçar a linha. Você concorda que a linha tem que ser tirada em algum lugar, e que as lógicas extremas [políticas totalmente laissez -faire] não são possíveis. Mas você não nos dá nenhuma orientação quanto ao local para desenhá-la... assim que você admite que o extremo não é possível e que a linha tem que ser desenhada, você é, no seu próprio argumento, feito para, uma vez que você está tentando para nos convencer de que, logo que você se move um centímetro na direção do planejamento, está necessariamente lançado no declive escorregadio que vai levá-lo no devido tempo ao precipício.

    Em suma, Keynes tomou as lições da obra de Hayek para si como um aviso de que a expansão do estado deve ser limitado e os políticos precisam de saber quando parar, algo que ele concordou com fundamentalmente. Apesar de acreditar que mais controle do Estado em algumas áreas pode ser justificada, os governos sempre precisam demarcar uma linha além da qual eles não atravessam. Isso pode ser uma lição não só relevante para a época, mas também para o nosso tempo.
  • Luciana Marchi  19/03/2014 21:59
    UM TAPA NA CARA DOS LIBERAIS: Como vocês explicam o sucesso da Malásia na superação da Crise Asiática de 1997? Não foram nada liberais as medidas que ela adotou. Houve adoção de medidas de controle de capitais e aumento dos gastos públicos.

    O ESTADO SALVA! O CONTROLE ESTATAL COORDENA!

    VIVA O KEYNESIANISMO(socialismo adaptado ao mundo moderno)!!!

    CHE GUEVARA ESTÁ ENTRE NÓS! ALLENDE CUIDA DE NÓS!

    Vocês do Mises Brasil são divulgadores não declarados do Consenso de Washington. Acharam que ninguém ia perceber isso?





  • Leandro  19/03/2014 22:18
    Embora tenha sido uma clara ironia, vale a pena falar um pouco sobre isso, pois se trata de um mito bastante propagado nas universidades.

    Para começar, não há muito segredo. Guardadas as devidas proporções, a Malásia se parece com a China.

    Com a crise financeira de 1997, houve uma grande fuga de capitais do país. Ato contínuo, o governo adotou duas medidas: desvalorizou fortemente o riggit (de 2,50 para 3,80 dólares, mas mantendo o câmbio fixo) e adotou controle de capitais para impedir as volatilidades causadas pelo hot money (capital puramente especulativo).

    Adicionalmente, o país recusou todos os pacotes de ajuda do FMI e do Banco Mundial (medida essencial para garantir a autonomia da economia do país, em minha opinião).

    Aí, ao contrário do que os economistas convencionais imaginavam, essa mistura de câmbio fixado em um nível desvalorizado e controle de capitais acabou atraindo os investidores internacionais, que agora podiam operar em um ambiente no qual o governo garantia que não haveria sobressaltos cambiais e nem grandes volatilidades. Ou seja: uma medida mercantilista e protecionista, excelente para os lucros dos grandes barões da indústria.

    Esses investimentos estrangeiros foram majoritariamente para o setor exportador (que é muito bom em termos de eletrônicos e produtos de informática) e acabaram aditivando a economia malaia de forma espetacular.

    Vale enfatizar, novamente, que se tratou de uma medida bastante mercantilista, bem ao estilo chinês: quem estava no setor exportador foi beneficiado pelo câmbio, em detrimento do resto da população; e quem investiu no país teve todas as garantias de retorno, sem grandes riscos de perdas.

    Ou seja, trata-se da velha fórmula de economia voltada para exportação. Quem está neste setor vive como rei; quem está de fora apenas tenta saciar o estômago.

    E a esquerda defende esses privilégios empresariais. Que surpresa...

    Agora, vale comentar outras características da economia malaia que certamente a esquerda não vai querer debater: imposto de renda de pessoa jurídica com alíquota máxima de 25% (no Brasil chega a 34%), carga tributária por volta de 18% do PIB (no Brasil é de 35%) e ambiente empreendedorial não muito burocratizado (lá demora-se 11 dias para abrir uma empresa; no Brasil, dependendo do estado, pode chegar a 180 dias).

    Ah, sim: sobre a crise de 1997, por que ninguém comenta sobre Hong Kong e Cingapura?
  • Dam Herzog  20/03/2014 00:37
    O Sr. Krugman é um economista príncipe de dizer asneiras apoiado em seu premio nobel de economia. Suas afirmações na maioria das vezes contrariam os fatos. Ou ele precisa rever os seus conceitos ou fazer como Joelmir Beting que dizia que na pratica a teoria é outra. Prática é a realização de uma teoria concretamente.Uma teoria só é considerada como tal se for provada pela prática, ou seja, não existe teoria sem prática. Einstein quando formulou a teoria da relatividade já tinha provado matematicamente esta teoria. Hayek dizia que falsas teoria seriam um desprezo da realidade para com a teoria. Se o Keynesianismo leva sempre a resultados em desacordo com o previsto, ele não passa pelo teste da pratica. Roosevelt usou as ideias desta escola nos Estados Unidos, interviu em tudo, e após a guerra,os Estados Unidos tinha um índice de desemprego maior que antes da IIª guerra mundial. O Brasil tem usado esta teoria e achamos que em 2015 a realidade deve entrar em cena. Esperemos. Mais Mises e menos Keynes.
  • Thiago  23/03/2014 05:38
    A teoria do Keynes é totalmente condizente com a vida dele..."gasta saporra toda, no longo prazo estaremos todos mortos".

    Só sendo muito conveniente pros governos pra ser levado a sério...

    E o Krugman é um Xamã, Macumbeiro ou qualquer merda dessa, menos um economista. Pqp...que charlatão!!
  • Silvio  24/03/2014 21:38
    Tudo uma questão de oferta e demanda. Os governos só queriam uma justificativa aparentemente plausível para fazer suas fanfarronices e o Sr. Keynes apresentou uma teoria segundo a qual as fanfarronices dos governos não só não faziam mal como ainda eram excelentes para estimular a economia.


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