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O que é e quais efeitos tem um programa de “afrouxamento quantitativo”

O Banco Central Europeu anunciou, em janeiro, que iria adotar a política do "afrouxamento quantitativo", chamado tecnicamente de Quantitative Easing.  O plano é comprar, mensalmente, 60 bilhões de euro em títulos públicos e privados em posse do sistema bancário.  O programa será mantido até totalizar o valor de 1,1 trilhão de euros.

O Federal Reserve, o Banco Central americano, adotou o afrouxamento quantitativo do início de 2009 até outubro de 2014.  O Banco Central do Japão, o pioneiro, adotou-o em março de 2001, e voltou com tudo em 2011.  O Banco Central da Inglaterra começou em 2009 e ainda não parou.  Já o Banco Central da Suécia adotou o programa em fevereiro de 2015.

Ao entender de muitos, este programa de "injeção de dinheiro" na economia é a chave para a recuperação.  No entanto, para avaliar realmente seus efeitos, convém conhecer tanto sua natureza quanto suas consequências.

Em que consiste exatamente?

O afrouxamento quantitativo nada mais é do que a compra, pelo Banco Central, de determinados ativos em posse do sistema bancário. 

Imagine que um determinado banco do seu país (o Banco A) tenha adquirido recentemente um título do Tesouro pelo valor de $ 10 milhões, e cujo prazo de vencimento é de 10 anos (enquanto o título não vence, o Banco A recebe juros do tesouro). 

Agora, suponha que o Banco A repentinamente esteja necessitado de melhorar sua liquidez.  Neste caso, dado que ainda falta uma década para o que o governo do seu país devolva o dinheiro que o Banco A lhe emprestou, o Banco A tem duas opções:

1) pedir um empréstimo para o próprio Banco Central, utilizando esse título do Tesouro como garantia (como quem pede um empréstimo para a compra de um imóvel e fornece como garantia o próprio imóvel); ou

2) vender o título da dívida a outros investidores.

O problema com a primeira opção é que ela representa uma melhora apenas temporária.  Afinal, o empréstimo junto ao Banco Central terá de ser quitado.  No que mais, ainda há um custo financeiro: o crédito que o Banco Central concedeu ao Banco A vencerá em pouco tempo (na Europa, pode ser um mês, um trimestre ou, na melhor das hipóteses, 3 anos), e o Banco A ainda terá de pagar juros ao Banco Central.  Ou seja, na prática, o Banco A não está melhorando estruturalmente sua liquidez: seu saldo de caixa aumenta apenas temporariamente, e ainda com o ônus de arcar com um custo financeiro.

A segunda opção é, em princípio, mais interessante para o Banco A: ele vende o título da dívida pública para outro banco (por exemplo, o Banco B), recebe dinheiro imediatamente, e se desfaz em definitivo desse título, conseguindo melhorar de forma estrutural sua liquidez sem a necessidade de pagar juros para o Banco B.

No entanto, do ponto de vista macroeconômico, essa transação tem um defeito: sim, o Banco A melhora sua liquidez, mas o faz à custa de uma piora da liquidez do Banco B. (O Banco B reduziu seu saldo de caixa ao comprar o título da dívida em posse do Banco A). 

O que fazer, então, se nosso objetivo é o de que alguns bancos melhorem sua liquidez sem que outros, no entanto, piorem as suas respectivas?  É aqui que entram os programas de afrouxamento quantitativo.

Mediante um afrouxamento quantitativo, é o Banco Central quem compra a dívida pública (ou qualquer dívida privada) em posse dos bancos.  E como ele faz essa compra?  Criando dinheiro do nada.  Na prática, o Banco Central simplesmente aumenta o saldo da conta-corrente que os bancos têm perante o Banco Central, criando novos dígitos eletrônicos nessas contas.  O efeito é exatamente o mesmo de imprimir dinheiro.

Consequentemente, e seguindo nosso exemplo anterior, o Banco A pode melhorar estruturalmente sua liquidez sem que nenhum outro banco tenha piorado a sua, pois o Banco Central criou nova liquidez com a qual saneou o balancete do Banco A.

Supostamente, quais são os efeitos?

Segundo alegam os defensores dessa política, os programas de afrouxamento quantitativo possuem vários efeitos que resultam em benefícios para o conjunto da economia e que permitem reanimá-la.

Em primeiro lugar, contribuem para reduzir as taxas de juros: se o Banco Central aumenta a demanda por determinados títulos da dívida pública, a taxa de juros desses títulos irá cair (para simplificar: comprar um título da dívida é equivalente a emprestar ao emissor desse título; e quanto maior a oferta de empréstimos, menores os juros). 

Por si só, isso já constitui um estímulo para aquelas entidades cujos títulos da dívida são comprados pelo Banco Central: os juros menores tornam mais barato seu custo de financiamento.  O Tesouro, por exemplo, poderá agora se endividar de maneira mais barata, liberando recursos para outros gastos.

Em segundo lugar, a situação financeira dos bancos irá melhorar: uma parte de seus ativos (empréstimos concedidos para o governo) não mais estará comprometida a longos períodos de maturação, pois estes ativos foram substituídos por dinheiro criado pelo Banco Central.  Os bancos agora possuem dinheiro em mãos.

Em terceiro lugar, a combinação entre juros menores e aumento da liquidez dos bancos deveria aumentar a concessão de novos empréstimos para o setor produtivo da economia.  De um lado, os balancetes dos bancos estão mais sólidos por causa do afrouxamento quantitativo e, consequentemente, os bancos dispõem da maior capacidade para conceder novos empréstimos.  De outro, as baixas taxas de juros agora vigentes sobre certa classe de dívida (por exemplo, a dívida pública) fará com que os bancos busquem outros lugares onde investir seu dinheiro: se os cômodos e seguros títulos da dívida não são mais um bom negócio (pois os programas de afrouxamento quantitativo reduziram seus rendimentos), então aos bancos não restará alternativa senão assumir maiores riscos e emprestar para famílias e empresas esse novo dinheiro que receberam do Banco Central. 

Adicionalmente, dado que haverá agora vários bancos ansiosos para emprestar para famílias e empresas, as taxas de juros sobre o crédito privado cairão, o que fará com que mais pessoas e empresas se endividem para consumir e investir.

Em quarto lugar, o aumento do crédito ao setor privado, e o consequente aumento do consumo e dos investimentos com base no endividamento, trará efeitos positivos para a economia.  Um maior gasto privado tenderá a ressuscitar a economia e, desta forma, não apenas irá reanimar a "atividade econômica", como também irá elevar os preços, afastando assim o "terrível" fantasma da deflação.

Em quinto lugar, uma parte desse consumo estimulado pelo crédito vazará para o exterior e, para isso, será necessário vencer a moeda nacional em troca de outras moedas.  No contexto europeu, o euro terá de ser vendido em troca de dólares, libras ou ienes, o que fará com que estas se apreciem frente ao euro.  Adicionalmente, como todo o mundo antecipará essa depreciação do euro, os especuladores tenderão a acelerá-la, liquidando suas posições em euro ou fazendo vendas a descoberto com a moeda europeia.

Em sexto lugar, e por último, a maior disponibilidade de crédito barato, o maior gasto interno, o aumento dos preços, a desvalorização da moeda, e a expectativa de que essas condições de afrouxamento e bonança serão mantidas pelo tempo que for necessário para reativar o crescimento econômico formarão um marco macroeconômico no qual os agentes se sentirão confiantes para voltar a se endividar, a investir, a consumir, a exportar e a contratar mais trabalhadores.  Um êxito total.

Quais são as contradições?

Como já deveria estar evidente, se os programas de afrouxamento quantitativo fossem tão maravilhosos como o prometido, não haveria governo nenhum no mundo (nem mesmo as mais cruéis ditaduras) que deixaria de se aproveitar disso.  No entanto, claramente, este não é o caso: os programas de afrouxamento quantitativo são a exceção, e não a norma, da política monetária de um país (anda bem!).

Em tempos normais, o motivo é claro: quando a economia está crescendo beneficiada pelo impulso do crédito bancário, com empresas e famílias se endividando para investir e consumir, jogar mais lenha na fogueira irá apenas contribuir para superaquecer a economia e fazer com que os preços subam mais do que o desejado.

Só que, atualmente, a Europa não está nesse cenário: os bancos não emprestam, famílias e empresas não se endividam, os preços caem, e ninguém gasta.  Portanto, sob esta realidade, o afrouxamento quantitativo parece realmente ser um impulso extremamente necessário a uma estagnada economia, e o qual não viria acompanhado de efeitos adversos.

Só que nem tudo são flores: ao passo que o afrouxamento quantitativo não irá provocar, no médio prazo, nada parecido com uma elevada inflação de preços, isso não significa que ele não gere outras consequências prejudiciais.

O primeiro efeito é que as baixas taxas de juros não têm por que estimular um novo ciclo de endividamento que reanime a economia, exceto para as entidades governamentais.  Estas seguem plenamente interessadas em manter seus déficits orçamentários, que aumentam a dívida brutal, a qual é impunemente transferida para as gerações futuras.  Juros mais baixos sobre a dívida pública sem dúvida facilitam a indisciplina do governo com o dinheiro dos pagadores de impostos. 

Para famílias e empresas, no entanto, o raciocínio não se aplica: se elas seguem altamente endividadas, e sua capacidade de gerar riqueza futura é incerta, facilitar-lhes de maneira artificial o endividamento não as levará a aumentar ainda mais seus passivos.  Consequentemente, o dinheiro injetado pelo Banco Central no sistema bancário continuará parado nos cofres dos bancos.  É possível levar o cavalo ao rio (facilitar o endividamento), mas não é possível obrigá-lo a beber a água do rio (endividar-se).

Agora, é necessário enfatizar que isso não significa que a redução dos juros por meio do afrouxamento quantitativo não possua efeitos adicionais: as taxas de juros não são importantes apenas para determinar o volume de um novo endividamento, mas também para determinar o preço dos ativos e o ritmo em que se amortiza a dívida passada. 

Instituir um ambiente de juros extremamente baixos pode não aditivar o crédito, mas seguramente irá diminuir a velocidade com que famílias e empresas reduzem antecipadamente suas dívidas passadas.  Por exemplo, uma dívida com taxa de juros fixa passará a ser muito mais cara para ser comprada no mercado secundário, o que significa que o devedor está preso a ela; já uma dívida com taxas de juros variáveis deixará de pagar juros, o que significa que não mais será interessante amortizá-la.

Adicionalmente, os juros excessivamente baixos estimulam um aumento no preço dos ativos financeiros em decorrência do seu valor presente descontado.

[Nota do IMB: a uma taxa de juros de 5%, o valor presente de um investimento que retorne $100 daqui a um ano seria de $ 95,24. Isso significa que $100 daqui a um ano vale subjetivamente o mesmo que $ 95,24 hoje.  Agora, se os juros caem para 1%, o valor presente de um investimento que retorna $ 100 daqui a um ano passa a ser de $ 99,01.

O mesmo raciocínio utilizado para um período de tempo maior — por exemplo, três anos — faz com que o valor presente descontado seja de $ 86,38 para juros de 5% e aumente para $ 97,06 para juros de 1%.]

Isso explica, em parte, a forte valorização da bolsa de valores dos EUA.

A conclusão é que a redução das taxas de juros em decorrência de um afrouxamento quantitativo consolida um contexto de alto endividamento e de sobrevalorização de ativos: longe de facilitar o reajuste econômico — que consiste em diminuir o endividamento e direcionar o capital para projetos verdadeiramente mais valiosos —, tal política o dificulta.

O segundo efeito é que, ainda que os juros menores gerados pelo afrouxamento quantitativo de fato estimulassem uma maior concessão de crédito (tal como desejam os defensores dessa política), isso significaria apenas que os bancos estariam assumindo riscos maiores do que aqueles que atualmente creem ser prudente assumir.  A ideia, como explicado, é que o afrouxamento quantitativo acabe com a rentabilidade dos ativos seguros (títulos públicos) para que assim haja mais empréstimos para atividades mais rentáveis, porém menos seguras.  Mais dívida e mais risco.  E, consequentemente, muito maior fragilidade financeira: justamente a receita que conduziu o mundo ao desastre da crise atual.  Aliás, o que é mais irônico: justamente por causa dessa política, muitos dos mesmos que hoje defendem o afrouxamento quantitativo exigiram uma maior regulação do sistema financeiro.

O terceiro efeito, e ligando os dois pontos anteriores, é que, se o afrouxamento quantitativo estimula uma maior concessão de crédito a taxas de juros mais baixas, todos aqueles empresários que se financiaram anteriormente a taxas de juros mais altas verão sua dívida atual como uma desvantagem competitiva.  Se seus concorrentes conseguiram se financiar a 2% ao passo que você tem de continuar pagando durante anos 6%, é óbvio que você está perdendo.  (Justamente porque os programas de afrouxamento quantitativo elevam o valor de mercado das dívidas, quem se financiou a 6% não consegue se refinanciar a 2%, a menos que consiga transferir ao seu credor os prejuízos gerados por essa redução de juros). 

Consequentemente, não apenas haverá um estímulo para o financiamento de projetos empreendedoriais menos seguros, como também se concede uma vantagem artificial a projetos mais insensatos em detrimento dos mais sensatos.

Conclusão

Os programas de afrouxamento quantitativo são uma injeção de liquidez que o Banco Central concede ao sistema bancário. 

Os claramente beneficiados por esse programa são os próprios bancos (que melhoram seus balancetes), o governo (que agora pode ser mais relaxado com o seu orçamento e se endividar a juros bem menores), os investidores que investiram há mais tempo em ativos financeiros (que ganham valor com a queda dos juros), os exportadores (por causa da depreciação cambial decorrente do afrouxamento quantitativo) e os devedores menos solventes (que agora não terão de quitar suas dívidas na mesma velocidade de antes, e cuja dívida poderá ser vendida, a um preço bem maior, no mercado secundário).

Por outro lado, e como consequência, os prejudicados são os poupadores, os pagadores de impostos, os importadores e os devedores mais solventes (que não conseguirão se refinanciar a juros menores).

O afrouxamento quantitativo premia o endividamento e o risco, e pune a poupança e a segurança.  O governo que adota esse programa não quer criar uma economia baseada em novas e boas oportunidades de negócio; quer viciá-la em práticas velhas, arriscadas e comprovadamente fracassadas.

Longe de impulsionar um reajuste salutar da economia, baseado em liberdade de mercado e poupança interna, o objetivo é espremer todo o potencial de um sistema falido dando-lhe uma sobrevida artificial.



autor

Juan Ramón Rallo
é diretor do Instituto Juan de Mariana e professor associado de economia aplicada na Universidad Rey Juan Carlos, em Madri.  É o autor do livro Los Errores de la Vieja Economía.


  • André Staffa Neto  04/03/2015 14:49
    Bom texto, mas pouco elucidativo sobre o processo de criação do dinheiro em si. O ponto de partida da explicação é um Banco A que precisa de caixa e tem um título público em seus cofres. Mas o texto falha em esclarecer a origem desse titulo público e como ele foi parar na posse do Banco A. Eu suponho que esse titulo público foi comprado pelo Banco A do Tesouro no passado, e portanto houve um enxugamento de liquidez anterior a toda a explicação (quando banco A comprou o título do Tesouro). Sendo assim, a compra pelo Banco Central a grosso modo reverteria uma situação anterior. Gostaria de ter essa explicação mais esmiuçada, começando desde a criação desse título (agora em poder do Banco A). Eu sempre procuro explicar esse processo para outras pessoas, mas confesso ter dificuldades em dar maiores detalhes devido a brechas na minha própria compreensão lógica de todo o processo.
  • Pedro  04/03/2015 15:18
    Já há um artigo falando exatamente (e detalhadamente) sobre isso. Era só você ter procurado. Ou, ao menos, pedido indicações:

    www.mises.org.br/FileUp.aspx?id=344

    O presente artigo tem o objetivo exclusivo de falar sobre o Quantitative Easing. Já isso que você quer saber nada tem a ver com QE, mas sim com o funcionamento do sistema bancário e dos bancos, assuntos abordados em artigos específicos.

    O objetivo deste artigo não é o de explicar minuciosamente como funciona o funcionamento do sistema bancário, como funciona todo o processo de criação da dívida pública, e como funciona o mercado de títulos públicos. Para isso, há artigos específicos, como o indicado acima.

    "Eu suponho que esse titulo público foi comprado pelo Banco A do Tesouro no passado, e portanto houve um enxugamento de liquidez anterior a toda a explicação (quando banco A comprou o título do Tesouro)."

    Não. Não houve "enxugamento" nenhum. O Banco A comprou títulos do Tesouro, e o Tesouro gastou esse dinheiro. Onde houve "enxugamento"?

    "Sendo assim, a compra pelo Banco Central a grosso modo reverteria uma situação anterior."

    Por quê?

    "Gostaria de ter essa explicação mais esmiuçada, começando desde a criação desse título (agora em poder do Banco A)."

    Exatamente no artigo indicado.

    www.mises.org.br/FileUp.aspx?id=344
  • Thiago André  04/03/2015 15:19
    Daqui a pouco, no artigo sobre a greve dos caminhoneiros, vai ter nêgo dizendo que o artigo é "incompleto" porque ele não detalha como funciona a mecânica dos caminhões...
  • Marcelo  04/03/2015 15:14
    Após o afrouxamento quantitativo, como se dá o processo de subida dos juros de mercado, que finda a fase de crescimento do ciclo econômico? Por exemplo: nos EUA, o que levará os bancos, cheios de reservas, a elevarem os juros dos empréstimos que concedem, e acabar com o atual boom? Um detalhe importante que não compreendo é se o que importa nesta análise são os juros de mercado nominais, ou os reais (juros de mercado - inflação de preços).

    Um abraço a todos do IMB!




  • Ribeiro  04/03/2015 15:19
    Esse é o busílis. E uma resposta foi ensaiada nestes dois artigos:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=2019
    www.mises.org.br/Article.aspx?id=2022
  • Victor  04/03/2015 15:48
    Ótimo artigo!
  • Henrique  04/03/2015 16:31
    Embora este site possua preconceito ideológico contra a intervenção governamental para baixar os juros, vemos que o crescimento do PIB brasileiros foi caindo conforme os juros foram subindo durante o governo Dilma, pelo fato de ela dar ouvido a setores conservadores que temiam a inflação. Resultado: crescimento pífio, após Lula entregar a faixa presidencial com crescimento de mais de 7% em 2010. Apenas os rentistas ganharam.

    Abraços
  • Leandro  04/03/2015 17:06
    Boa tentativa, mas não passou.

    "Embora este site possua preconceito ideológico contra a intervenção governamental para baixar os juros,"

    Em primeiro lugar, não há nenhum "preconceito ideológico" neste site. Há apenas críticas a medidas que, como sabemos a priori, não apenas não alcançarão o almejado fim, como gerarão inúmeras distorções.

    Se agir assim é ter "preconceito ideológico", então de fato somos preconceituosos. Temos preconceito contra a burrice.

    Em segundo lugar, assim como criticamos a intervenção governamental para baixar juros, também criticamos a intervenção governamental para elevar juros. Não é só para baixar que o governo erra. Ele também erra ao subir. É impossível o governo determinar corretamente qual é o valor correto de um preço tão crucial quanto os juros.

    O governo querer controlar juros é absolutamente idêntico a ele querer controlar preços. Inevitavelmente haverá consequências não-premeditadas.

    "vemos que o crescimento do PIB brasileiros foi caindo conforme os juros foram subindo durante o governo Dilma, pelo fato de ela dar ouvido a setores conservadores que temiam a inflação."

    A sua lógica segundo a qual juros são opostos a crescimento econômico não se sustenta nem pela teoria (a qual você ignora) nem pela prática (a qual você finge ignorar).

    De 2004 a 2008, os juros foram muito maiores do que foram de 2011 e 2014. E naqueles anos todas as taxas de crescimento foram superiores às de 2011 e 2014. Todas.

    Aliás, o em que a economia mais cresceu sob o governo Dilma foi em 2011, justamente o ano em que os juros foram os mais altos do seu reinado.

    Logo, e curiosamente, fazendo-se essa análise puramente empírica, chegaríamos a uma conclusão justamente oposta a essa sua: quanto menores foram os juros, menor foi o crescimento econômico.

    Aliás, se juros baixos gerassem crescimento, o Japão (com juros zero desde 1999) já seria hoje a economia mais pujante do mundo, sem absolutamente nenhum rival.

    "Resultado: crescimento pífio, após Lula entregar a faixa presidencial com crescimento de mais de 7% em 2010."

    O crescimento pífio da era Dilma e o crescimento alto da era Lula têm explicações um tiquinho mais complexas do que apenas a taxa Selic (a qual, aliás, foi mais alta no governo Lula). Para quem interessar possa, o que não é o caso do Henrique, esse artigo faz uma explicação minuciosa desses dois governos.

    "Apenas os rentistas ganharam."

    Se duvidar, como consequência do nacional-desenvolvimentismo keynesiano dilmista até mesmo os rentistas perderam. Realmente, o modelo dilmista é um portento.
  • Pobre Paulista  04/03/2015 17:47
    Rentistas!

    Estou a tanto tempo sem conversar com esquerdistas que tinha até me esquecido deste termo.

    Quanto eu preciso tirar mensalmente de rendimentos para me tornar um rentista? Não vejo a hora de me tornar um!
  • Dom Comerciante  04/03/2015 18:16
    "Embora este site possua preconceito ideológico contra a intervenção governamental"
    Como os progressistas gostam de usar essa palavra... E esse site não possui preconceito e sim conceito do que a intervenção governamental pode causar numa economia.

    "para baixar os juros, vemos que o crescimento do PIB brasileiros foi caindo conforme os juros foram subindo durante o governo Dilma, pelo fato de ela dar ouvido a setores conservadores que temiam a inflação. Resultado: crescimento pífio, após Lula entregar a faixa presidencial com crescimento de mais de 7% em 2010. Apenas os rentistas ganharam."
    Governo keyenesiano: acham que a intervenção do Estado na economia cria riqueza feito mágica, trazendo "luz" a "escura" ordem espontânea do mercado.
  • Gustavo Nunes  04/03/2015 17:10
    Seria mais um "Quantitative Faking" no qual a economia como um todo "finge" estar dando sinais de melhora e prosperidade.
  • Pobre Paulista  04/03/2015 17:51
    Existe um artigo que faz uma metáfora da economia em crise com acidentes de carro em todos os cruzamentos, pontuando que o problema era o excesso de sinais verdes... Alguém se lembra qual era?
  • Marcelo Simoes Nunes  05/03/2015 00:06
    LEANDRO, tornou-se público que o governo estuda criar novos impostos ou aumentar os que existem sobre grandes fortunas, herança, remessa de lucros ao exterior, dividendos etc. Seria oportuno um artigo sobre o tema. Um abraço.
  • Leandro  05/03/2015 00:21
  • patricio  05/03/2015 00:25
    No caso do terceiro efeito se um empresário tem uma divida passada com juros maiores e agora estão lhe oferecendo credito a juros menores é só ele pegar este novo crédito e quitar o antigo, horas. Em teoria sua alavancagem não aumenta, pelo contrario ele tem mais folga para pegar mais. Para pessoa física isto seria o equivalente de trocar as dívidas do cheque especial por um empréstimo consignado.
  • Leandro  05/03/2015 00:35
    Falta só combinar com os bancos...

    Ao agir assim, você está pensando que banqueiro é otário. Em um cenário de recessão, se você chegar a um banco e pedir empréstimo, a primeira coisa que vão lhe perguntar é "qual o seu projeto?".

    Se você falar que está pegando um empréstimo para quitar outro empréstimo, o banco irá lhe mandar passear. Ele sabe que você não terá como quitar a dívida, pois você não investirá em nenhuma atividade que gere renda futura. Você é um calote ambulante.

    Outra coisa: ao contrário da intuição normal, juros excessivamente baixos acabam restringindo a expansão do crédito. E a lógica é simples.

    Se os juros estão em, por exemplo, 50% ao ano, então os bancos podem se dar ao luxo de ser menos cautelosos na concessão de empréstimos. É a mesma lógica do agiota: se você emprestar para pessoas com histórico de crédito duvidoso, cobre juros altos; quanto mais altos os juros, mais você empresta para pessoas assim.

    E quanto mais baixos os juros, mais criterioso e cauteloso você tem de ser. Se os juros são muito altos e o mutuário dá calote em algumas prestações, tudo bem; desde que ele pague as outras, o banco ainda tem lucro. Já com juros baixos, qualquer atraso na prestação já afeta severamente a possibilidade de lucro do banco.

    Por isso esse aparente paradoxo entre juros zero, crescimento do crédito quase nulo e inflação de preços zero.
  • Filipe  06/03/2015 13:51
    Oi Leandro, me ajude a entender a sua afirmação.

    "Se você falar que está pegando um empréstimo para quitar outro empréstimo, o banco irá lhe mandar passear. Ele sabe que você não terá como quitar a dívida, pois você não investirá em nenhuma atividade que gere renda futura. Você é um calote ambulante."

    Não entendi porque isso é sempre verdade. O tomador do empréstimo não poderia ter iniciado um projeto que lhe rende 10% e ele paga 6% de juros? Nesse caso ele iria a outro banco pra pegar um empréstimo a 2%, quitar o de 6% e aumentar sua rentabilidade.

    No artigo ele fala que os prejudicados são os devedores mais solventes e os beneficiados seriam os menos solventes, não é exatamente o contrário?
  • Leandro  06/03/2015 15:10

    "Não entendi porque isso é sempre verdade. O tomador do empréstimo não poderia ter iniciado um projeto que lhe rende 10% e ele paga 6% de juros? Nesse caso ele iria a outro banco pra pegar um empréstimo a 2%, quitar o de 6% e aumentar sua rentabilidade."

    Esse seu cenário pressupõe um empreendedor com um projeto já consumado e altamente rentável (o que, por sua vez, pressupõe uma economia em expansão, e não em recessão). Se esse realmente fosse o caso, então não haveria problemas.

    Só que estamos falando de um cenário de recessão (ou seja, retorno de 10% não existe) e de bancos com baixa liquidez e com balancetes afetados pelo estouro da bolha imobiliária (como é o caso dos bancos espanhóis e irlandeses). Nesse cenário, os bancos ficam um pouquinho mais exigentes. E rentabilidade de 10% é extremamente rara.

    "No artigo ele fala que os prejudicados são os devedores mais solventes e os beneficiados seriam os menos solventes, não é exatamente o contrário?"

    Tirando as coisas do contexto desta maneira, realmente dá essa impressão.

    Só que, o que foi dito, é que os devedores mais solventes são prejudicados porque eles não conseguirão se refinanciar a juros menores; e os menos solventes não mais terão de quitar suas dívidas na mesma velocidade de antes, e poderão revendê-la a um preço maior no mercado secundário (desde que encontre alguém para comprá-la, é claro).
  • Filipe  06/03/2015 15:56
    Entendi que em momentos de recessão existe uma porcentagem maior de projetos que parecem ter uma boa relação de risco e rentabilidade com juros altos mas que na verdade não seriam rentáveis nem a juros baixos, dessa forma o banco não teria interesse em refinanciar essa dívida.

    Mas não consegui entender porque os menos solventes conseguem refinanciar a dívida e os mais solventes não conseguem. Quem teria interesse em refinanciar a dívida de devedores menos solventes?
  • Leandro  06/03/2015 16:05
    Não está escrito em lugar nenhum que os menos solventes conseguem refinanciar sua dívida. E, se por acaso estiver escrito isso em algum lugar do artigo (não encontrei), me aponte, por favor, pois estaria errado.
  • Filipe  06/03/2015 17:01
    Errei.

    O que eu não consegui entender foi porque os menos solventes poderão quitar sua dívida em uma velocidade diferente e quem teria interesse em comprar a dívida deles?
  • Leandro  06/03/2015 17:47
    "O que eu não consegui entender foi por que os menos solventes poderão quitar sua dívida em uma velocidade diferente"

    Explicado no artigo. Uma dívida com taxas de juros variáveis deixará de pagar juros (pois os juros caíram para zero), o que significa que não mais será interessante amortizá-la. Isso vale tanto para os mais solventes quanto para os menos. Mas configura, por definição, um prêmio para o mais insolvente.

    "e quem teria interesse em comprar a dívida deles?"

    Os bancos podem vender as dívidas destes menos solventes para outros investidores mais afeitos ao risco (e atraídos pelos juros maiores destas dívidas em um cenário de juro zero). Isso se chama securitização, e permite que maus pagadores tenham sobrevida no mercado. Foi exatamente o que aconteceu nos EUA. A dívida de pessoas insolventes foi securitizada e comprada por terceiros (majoritariamente bancos de investimentos, que se estreparam).
  • Filipe  06/03/2015 19:59
    Obrigado Leandro, acredito que finalmente entendi.

    Discordo de que os mais solventes sejam punidos porque ambos mais solventes e menos solventes com juros variáveis tem as dívidas extendidas pelo mesmo prazo e relativamente ambos tem os juros reduzidos pela mesma porcentagem (100%).

    Nas dívidas com juros fixos ambos não conseguirão se refinanciar pelos novos valores, portanto ambos perdem.

    A venda da dívida pelo banco banco também tampouco afeta os menos solventes, se deixarem de pagar serão executados (e possivelmente falirão) independente de quem seja o atual credor da dívida.

    Apesar de discordar sobre as vantagens e desvantagens para os devedores, gostei bastante do artigo e concordo com todos os outros grupos beneficiados e prejudicados.
  • Luciano  25/09/2016 19:30
    Leandro, como pode, a juros quase zero, os EUA estarem emprestando tanto?

    Confira aqui: cdn.tradingeconomics.com/embed/?s=unitedstaloatoprisec&v=201609162233o&d1=19160101&d2=20161231&h=600&w=900

    Ta com crédito mais expandido do que no período anterior a crise de 2008...
  • Leandro  25/09/2016 21:47
    Não visualizei esse "emprestando tanto".

    Do início de 2009 a meados de 2016, o saldo do crédito foi de 1,6 trilhão para 2,06 trilhão. Um aumento de 28,75% em 7,5 anos.

    Isso dá um aumento de 3,42% ao ano. Taxa baixíssima. No Brasil, no auge da insensatez da dupla Mantega/Augustin, [link=www.mises.org.br/Article.aspx?id=2466]o crédito chegava a crescer 28% ao ano.
  • Luciano  26/09/2016 14:13
    Comparar com o Brasil é covardia :)

    agora se comparar com a Europa que tem uma economia mais parecida com a americana, os EUA emprestaram bem mais nesse mesmo período.
  • Leandro  26/09/2016 14:57
    Ah, sim, mas nem teria como ser diferente. Com as taxas de juros negativas -- os bancos europeus estão sendo obrigado a pagar para o Banco Central Europeu --, tornou-se praticamente impossível qualquer expansão do crédito na Europa.

    Eis um artigo recente que fala exclusivamente sobre isso:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=2497
  • Cjr  05/03/2015 01:40
    show de bola este site............aprendo mais aqui do que 5 anos de UFPR
  • Dam Herzog  05/03/2015 02:25
    Sou amador no mises que, me dá muito prazer de ler cada artigo diariamente.Neste artigo penso que temos e devemos ter preconceito ideológico (por principio) contra as intervenções, que são sempre danosas e um desatre para a economia. É que não devemos ter um raciocínio consequêncilista. E se algumas intervenções do governos fossem boas nós apoiaríamos? Mises escreveu um livro criticando asperamente a interveção. O problema é o governo.A intervenção é sempre ruim distorce a economia de mercado. Com o Mises Brasil nós podemos mudar o Brasil.
  • Werner Herzog  05/03/2015 12:43
    "E se algumas intervenções do governos fossem boas nós apoiaríamos?"

    Se essas intervenções fossem economicamente boas, apoiá-las seria errado ainda assim. Nunca podemos nos esquecer que essas intervenções são financiadas por meio de roubo e apoiar o roubo é errado.

    Não se deve deixar a moral de lado por conta do utilitarismo.
  • Pobre Paulista  05/03/2015 13:29
    Caro,

    Um governo absolutamente perfeito conseguiria fazer, no máximo, o que o livre mercado já estaria fazendo de qualquer maneira: Alocar os recursos de acordo com a vontade dos cidadãos.

    Portanto toda e qualquer intervenção estatal é necessariamente danosa à economia.

    Por isso nenhuma delas deve ser apoiada.
  • Sidiclay Rocha  05/03/2015 13:41
    Off topic:
    Tenho uma dúvida e pergunto aos colegas libertários:

    Em um hipotético Estado libertário, como poderiam ser prestados os serviços de relações exteriores (embaixadas)?... tanto no hipotético país como em outros países onde houvessem embaixadas/consulados.

    Se alguém souber de algum link que explique esse caso, por favor mostre.

    Desde já agradeço as colaborações!
  • Marie Claire  05/03/2015 14:06
    Máquinas de fax.
  • Anônimo  05/03/2015 15:18
    Comprovadamente mais econômicas do que a apoteose aspônica:

    aspone.blog.com/2013/08/30/a-apoteose-asponica/

    O diplomata é o pai de todos os funcionários públicos. Ou simplesmente o funcionário público para acabar com todos os funcionários públicos.
  • Roger Waters  05/03/2015 14:19
    Sidiclay, leia essa artigo do Leandro Roque: Um plano de governo para o próximo presidente brasileiro, mais especificamente o mês quarenta e um.


  • Vinicius  05/03/2015 15:38
    Sua proposta é contraditória em sí própria, em relação ao quadrado redondo, digo estado libertário, como na proposta de 1 única nação libertária, cercada de outras ditas normais, necessariamente precisaria de serviços de embaixada para as ditas nações normais exigiriam tal para reconhecerem tratados de comercio e trânsito de pessoas, resumindo, controla-las.
    No fim do séc XIX na europa, o trânsito de pessoas pelas fronteiras era livre, tanto para turismo como para trabalho, postos de fronteira e necessidade de passaportes eram coisas de nações atrasadas e isoladas, justamente o que temos hoje.
  • Nova  05/03/2015 14:23
    Muito ultrapassado, já há soluções melhores. Uma conta gratuita de e-mail resolve todo o problema.
  • Christian  11/03/2015 15:45
    Ótimo artigo. Seria um exagero dizer que o afrouxamento quantitativo é a semente da próxima grande crise?
  • Emerson Luís  24/03/2015 14:38

    "Afrouxamento Quantitativo"

    Mais um nome pomposo e enigmático para uma prática simplesmente ignóbil?

    * * *
  • Amarilio Adolfo da Silva de Souza  24/03/2015 22:21
    O estado, como sempre, criando novas maneiras de ganhar alguma coisa por meio de nada. Seria bom se funcionasse, mas a lógica não permite esse malabarismo irresponsável. Criar dinheiro adicionando números em contas correntes é tão infantil como qualquer outra besteira que o estado faz ou propõe. Eu não me importaria com isso, mas estou pagando impostos para esses senhores "criativos".
  • Tiago  14/09/2016 23:41
    [i] Em primeiro lugar, contribuem para reduzir as taxas de juros: se o Banco Central aumenta a demanda por determinados títulos da dívida pública, a taxa de juros desses títulos irá cair (para simplificar: comprar um título da dívida é equivalente a emprestar ao emissor desse título; e quanto maior a oferta de empréstimos, menores os juros). [\i]

    Não consegui entender a relação nessa parte. Os juros que remuneram as dívidas públicas não são pre-fixados? Ou a referência aqui seria aos títulos futuros?
  • Tiago  15/09/2016 00:03
    [i] Em primeiro lugar, contribuem para reduzir as taxas de juros: se o Banco Central aumenta a demanda por determinados títulos da dívida pública, a taxa de juros desses títulos irá cair (para simplificar: comprar um título da dívida é equivalente a emprestar ao emissor desse título; e quanto maior a oferta de empréstimos, menores os juros). [\i]

    Não consegui entender a relação nessa parte. Os juros que remuneram as dívidas públicas não são pre-fixados? Ou a referência aqui seria aos títulos futuros?
  • Henrique  15/09/2016 00:18
    A taxa é prefixada apenas para quem carrega o título até o vencimento. No entanto, diariamente, o preço do título (logo, sua taxa de juros) varia. Isso significa que, se você revender o título antes do vencimento -- e todos os governos fazem recompras diárias ---, você irá revender pelo preço de mercado.

    Qualquer um que opera com Tesouro Direto sabe disso.

    Portanto, se um europeu comprar hoje um prefixado com juro zero, e daqui a um mês ele estiver com juros negativos, o preço desse título subiu. Isso significa que ele ganhou dinheiro. Caso ele o revenda, ele teve uma rentabilidade positiva.

    Artigo recomendado:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=2445
  • Paulo Henrique  08/05/2017 03:28
    Olá, estava olhando esse artigo e eis que passado algum tempo a bolsa de valores americana continua crescente
    https://4.bp.blogspot.com/-QrKqDjRHeIA/WQ5BNzg8nqI/AAAAAAAAWRY/s9IPPXp-hMAfJomULkfLg9ax6OoHSMxkACLcB/s1600/Standard%2Band%2BPoor%2527s%2B500%2BIndex%2BMay%2B5%2B2017.png

    No longo prazo, as ações estão correlacionadas com o crescimento econômico

    Só que os eua n cresceram tudo isso, e ainda tem o cenário do QE (afrouxamento quantitativo)

    Podemos concluir com algum nível de certeza que é bolha?
  • Murdoch  08/05/2017 16:20
    Paulo Henrique,

    venho acompanhando a situação econômica americana faz pouco tempo, mas esses níveis de crescimento da bolsa de valores despertaram minha atenção.
    Tem uma matéria interessante que pode estar relacionado a isso: The Ticking Time Bomb That Will Wipe Out Virtually Every Pension Fund In America

    A matéria indica que os fundos de pensões estão sendo subfinanciados e fazendo investimentos bastante arriscados como ações da internet e hipotecas comerciais. Seria semelhante a crise de subprime que ocasionou os eventos de 2008. E já resultou em um grande drama na cidade de Dallas, o que pode ser a ponta do iceberg. O fato é que as obrigações(passivos) com as pensões subiram de US$292 bilhões em 2007 para US$1,9 trilhões, segundo alguns cálculos pouco precisos, mas de acordo com a Bloomberg, esse valor poderia chegar a incríveis US$6 trilhões.
    Mesmo se a situação continue estável, ainda parcelas de pessoas podem se ver sem a pensão que lhe foi prometida. Em uma situação hipotética, se o mercado de ações caísse 10% e permanecesse por meses, os fundos de pensões iriam evaporar, e esses fundos estão expostos em hipotecas comerciais. Segundo o site, o FED tem mantido o apoio ao mercado de ações como meio de evitar o declínio das ações negociadas pelos fundos de pensões como forma de proteção para os mesmos. Mas um colapso nos títulos hipotecários comerciais, se transformaria em uma crise semelhante a de 2008, ou pior talvez.
    O mercado hipotecário comercial é de cerca de US $ 3 trilhões, dos quais cerca de US $ 1 trilhão foi embalado em títulos garantidos por ativos e recheados em fundos de pensão. Só que já está sendo projetado o fechamento de 3.500 lojas nos próximos meses, e isso vai devastar os setores envolvidos. Mas a queda do mercado acionário vai afetar ainda mais os fundos de pensão. As ações estão ridiculamente sobrevalorizadas agora, e se elas simplesmente retornarem a "avaliações normais", os fundos de pensão vão perder trilhões de dólares.
    Os dados mais recentes da Bolsa de Valores de Nova York mostram que a dívida de margem, ou o dinheiro emprestado para comprar ações, atingiu um recorde de US $ 528,2 bilhões em fevereiro, acima da alta anterior de US $ 513,3 bilhões em janeiro.
    Sempre antes de um crash, há um disparo na dívida de margem, como em 2000 no boom das ações ponto com, e em 2007. A dívida de margem subiu 22% desde o final de 1999, antes de atingir seu pico em março de 2000, em US $ 278,5 bilhões, as ações do mesmo mês atingiram o pico. Em 2007, a dívida de margem subiu para US $ 381,4 bilhões em julho, três meses antes do início das ações.
    No caso do fundo de pensão de Dallas, em 01 de Janeiro de 2016, tinha US $ 2,68 bilhões de ativos contra US $ 5,95 bilhões de passivos. O que aconteceu? Os benefícios cortados pela metade ou mais.
    O fato é que os fundos estão crescendo a base de dívida, uma situação semelhante a de 2008, sem falar que muitos fundos de pensões ainda nem se recuperaram da última crise, onde foram perdidos mais de US$5 trilhões em ativos como casa, pensões, poupanças...
    Pode ser fato uma bomba relógio.
  • Paulo Henrique  09/05/2017 21:10
    Gostei da sua visão. Outro problema, é que atualmente, assim parece, a avaliação do mercado de ações está bem à frente da economia real. Evidências empíricas mostram que a correção de mercado não ocorre nem suave nem moderadamente, mas o excesso para o lado positivo é seguido por um excesso para o lado negativo e vice-versa.


    Uma razão indiscutível para as elevadas avaliações das ações nos Estados Unidos é a política da chamada "afrouxamento quantitativo" que fez com que o banco central americano (FED) aumentar a base monetária de abaixo de um trilhão para quase quatro e meio trilhões dólares. Ao mesmo tempo, o FED reduziu a taxa de juros (taxa de fundos federais) de cinco por cento em 2007 para 0,5 por cento em 2009. Não foi até o final de 2016 que o banco central começou a aumentar a taxa em pequenos passos para o nível atual de um por cento, que ainda é extremamente baixo.
    As taxas de juros em um nível tão baixo não só levaram a um frenesi "busca de rendimento". Essas baixas taxas também têm provocado que as empresas usem seu excesso de liquidez para recomprar ações.

    Observe o gráfico abaixo, um tanto quanto empírico. E é uma certa ''piadiniha''

    www.mybudget360.com/wp-content/uploads/2014/09/bubble.jpg


    A não ser que as bolhas anteriores manteram a Bolsa dos eua em um patamar baixo do real, e somente agora está se recuperando a um patamar realístico. Eu duvido, primeiro, por motivos já expostos acima, e segundo, por não ver todo esse otimismo na economia americana, esse crescimento todo me parece algo sem fundamento sólido.

    Não acho que estarei errando ao dizer que existe sim uma bolha na bolsa de valores americana, estou tentando praticar a boa e velha praxeologia que esse site ensina e observando o comportamento humano.. A bolsa de valores também virou um bom rendimento nos EUA em um país com juros tão baixos, e pior, na europa chega a ser negativo.



  • Murdoch  10/05/2017 16:45
    Paulo Henrique,


    A situação econômica americana não está tão otimista assim a ponto do mercado de ações subir continuamente, isto nos mostra que esse crescimento é algo sem fundamento. Veja os gráficos:

    Pois bem, o 1º gráfico é a dívida total dos EUA.
    Pouco antes da última recessão, ele estava em cerca de 50 trilhões de dólares, e hoje está rapidamente se aproximando dos 63,5 trilhões de dólares.
    All Sectors; Debt Securities and Loans; Liability, Level (DISCONTINUED)

    O 2º gráfico é a velocidade do dinheiro. Quando uma economia está saudável, o dinheiro tende a mudar de mãos e circular através do sistema muito rapidamente. Portanto, faz sentido que a velocidade do dinheiro tenha caído drasticamente durante a última recessão. Mas por que ele continuou indo para baixo desde então? E uma queda tão drástica nunca tinha acontecido antes nos EUA como pode ver no gráfico.
    Velocity of M2 Money Stock

    O 3º gráfico é a taxa de emprego.Pouco antes da última recessão, aproximadamente 63 por cento da população em idade de trabalho nos Estados Unidos estava empregada. Durante a recessão, essa proporção caiu para abaixo de 59 por cento e permaneceu lá por vários anos. Apenas recentemente, subiu um pouco acima de 59 por cento, mas ainda está muito, muito longe do que costumava ser.
    Civilian Employment-Population Ratio

    O 4º gráfico é a taxa de participação da força de trabalho. Como podem ver a taxa de participação da força de trabalho está caindo desde a última recessão, o que demonstra que o mercado de trabalho está pior do que antes da recessão.
    Civilian Labor Force Participation Rate

    O 5º gráfico é a taxa de inatividade para os homens. Pouco antes da última recessão, a taxa de inatividade para os homens em seus anos de trabalho principal era de cerca de 9 por cento. Hoje é apenas de cerca de 11.5 por cento.
    Inactivity Rate: Aged 25-54: Males for the United States

    O 6º gráfico é a inflação. É dado que a renda média familiar americana está aumentando depois da recessão, mas os custos de vida não declinaram, eles aumentaram.
    Consumer Price Index for All Urban Consumers: All Items

    Ou seja, para mim os EUA estão em uma condição muito piores do que antes da última recessão, mesmo com alguns índices melhorando, a saúde financeira americana está debilitada.

    Prosseguindo:

    O excesso de liquidez das empresas tem provocado grandes efeitos no mercado de ações assim como o QE, mas apenas isto não explica o fato da bolsa estar deste nível. Muitas dessas empresas também fazem empréstimos para alavancar suas ações, porque o empréstimo sai muito barato, e isto abre novas possibilidades para especulações. Os juros baixos também ocasionam pessoas a investirem em ações, porque o cenário é desfavorável a outros investimentos porque o Federal Reserve criou um ambiente de retornos baixos a quase inexistentes nas contas de poupança bancária e, no processo, rompeu a mentalidade de poupança que tinha sido a base da sociedade americana, mas só que elas precisam investir para aposentadoria, poupança e outras situações futuras. Sabe o que eu acho?
    A economia americana se tornou viciada em ações, todos os efeitos são ocasionados pelo nível das ações, a produção que seria o que realmente importa foi deixado de segunda-mão para o mercado de ações tomar o lugar de destaque no cenário econômico. Sempre quando abro um jornal aparece Dow Jones subiu, bolsa de Nova York desceu, você raramente escuta assim: a produção industrial americana subiu, no mês de Maio de 2017 foram criados 100 mil postos de trabalhos nos EUA.
    Essa situação em que os EUA se concentram mais no mercado de ações do que na economia em si, me faz lembrar Eike Batista. Em um artigo da revista Exame, foi relatado que as empresas de Eike eram guiadas pelo valor das ações, situação semelhante aos EUA atualmente, e já sabemos como essa história termina.
    Os 7 erros de Eike

    É um fato básico da economia que os preços das ações devem refletir com precisão os ganhos atuais e futuros. Então, se os lucros das empresas estão no mesmo nível em 2011, por que o S & P 500 subiu 87% desde então?

    Wolf Richter disse:"The S&P 500 stock index edged up to an all-time high of 2,351 on Friday. Total market capitalization of the companies in the index exceeds $20 trillion. That's 106% of US GDP, for just 500 companies! At the end of 2011, the S&P 500 index was at 1,257. Over the five-plus years since then, it has ballooned by 87%! These are superlative numbers, and you'd expect superlative earnings performance from these companies. Turns out, reality is not that cooperative. Instead, net income of the S&P 500 companies is now back where it first had been at the end of 2011."
    S&P 500 Earnings Stuck at 2011 Levels, Stocks up 87% Since

    A relação preço(ação)-lucro ajustada ciclicamente foi originalmente criada pelo autor Robert Shiller , e é amplamente considerada como uma das melhores medidas do verdadeiro valor dos estoques existentes. De acordo com o Guardian , só houve duas vezes em toda a nossa história quando essa proporção foi maior. Um deles foi logo antes do crash da bolsa de 1929, e outro foi logo antes do estouro da bolha pontocom. Tradicionalmente, um dos melhores critérios para saber se as ações estão sobrevalorizadas ou subvalorizadas foi a relação preço-lucro ajustada ciclicamente construída pelo economista Robert Shiller. Esta proporção está atualmente em aproximadamente 29 e tem somente duas vezes mais altamente: em 1929 antes do ruído elétrico de Wall Street, e nos últimos meses frenéticos da bolha do pontocom do final dos anos 90.
    Cycliacally Adjusted Price-to-Earnings Ratio

    Alguns economistas estimam que seria preciso um declínio do mercado de 40 ou 50 por cento para obter a relação preço-lucro ajustada ciclicamente de volta a um nível que faz sentido econômico. Os mercados tendem a descer muito mais rápido do que subir, e todas as outras grandes bolhas do mercado de ações na história dos EUA terminaram muito mal.
    Mas o que realmente importa é saber que as avaliações atuais do mercado de ações não são sustentáveis ??e que um grande acidente está chegando. Pode não acontecer na próxima semana ou no próximo mês, mas vai acontecer. E quando isso acontecer, é provável que o que aconteceu em 2008 pareça um piquenique de domingo.

    Te um outro artigo sobre a situação americana:58 Facts About The U.S. Economy From 2015 That Are Almost Too Crazy To Believe
  • Antonio Augusto Ribeiro Brandão  17/05/2017 19:26
    O afrouxamento monetário praticado pelos Bancos centrais de diversos países, do ponto de vista da tradicional Teoria Quantitativa da Moeda, deveria ter sido inflacionário, pela desproporção entre quantidade de moeda e bens e serviços disponíveis na economia.
    Por que não foi? Porque, face a essa fraca demanda, grande parte desses recursos permaneceu no caixa desses bancos diminuindo, portanto, a velocidade de circulação da moeda (MV=PT ou PY). Serviu, entretanto, para aumentar o endividamento de empresas e governos. Essa verdadeira "financeirização" da economia afetou também os conceitos da Base monetária e seu multiplicador.

    Das duas uma: precisamos de novidades na Teoria econômica atualmente consagrada, que sejam gestadas no meio acadêmico e depois validadas pelo mercado, e que amparem essas novas práticas, ou estamos combinando mal os modelos existentes.
    Agradeço retorno a essas minhas considerações.
  • Leandro  17/05/2017 20:24
    "Por que não foi? Porque, face a essa fraca demanda, grande parte desses recursos permaneceu no caixa desses bancos diminuindo, portanto, a velocidade de circulação da moeda (MV=PT ou PY)."

    Não exatamente.

    De fato, o Fed explodiu a base monetária .

    Tamanha injeção de dinheiro no sistema bancário iria, segunda a teoria macroeconômica, degenerar em hiperinflação caso os bancos decidissem emprestar todo esse dinheiro para pessoas e empresas.

    Vale enfatizar que, no atual arranjo financeiro, o Fed (bem como o Banco Central brasileiro) não injeta dinheiro diretamente na economia; ele injeta dinheiro apenas nos bancos, e os bancos é que decidem se irão despejar este dinheiro na economia (por meio da criação de crédito). Se os bancos não quiserem despejar este dinheiro na economia, não há nenhum risco de inflação de preços.

    E foi aí que o Fed teve então a sua segunda ideia, completamente inédita na história dos Bancos Centrais: para impedir que toda esta dinheirama fosse emprestada pelos bancos, ele simplesmente decidiu pagar aos bancos juros anuais de 0,25% sobre todo e qualquer dinheiro que os bancos voluntariamente deixassem parado no Fed.

    Normalmente, um Banco Central paga juros aos bancos apenas sobre o valor do compulsório. Nos EUA, no entanto, o Fed criou a política de pagar juros para todo e qualquer montante que os bancos voluntariamente deixem parados no Fed.

    Ou seja, de um lado, o Fed imprimiu (eletronicamente) trilhões de dólares e entregou esse valor aos bancos em troca de títulos podres que estavam em posse destes bancos; de outro, ele começou a pagar, para os bancos, juros de 1% (atualmente) sobre todo este dinheiro.

    Tão logo o Fed adotou essa prática, o mercado interbancário praticamente morreu. E esta taxa que o Fed paga sobre as reservas em excesso acabou se tornando a taxa básica de juros da economia americana.

    A consequência disso é que os bancos americanos estão hoje com mais de US$ 2 trilhões de "reservas em excesso" voluntariamente estacionadas no cofre eletrônico do Fed.

    "Serviu, entretanto, para aumentar o endividamento de empresas e governos."

    Isso é incoerente. Se o dinheiro nem saiu dos bancos, então não pode estar havendo aumento no endividamento.

    "Das duas uma: precisamos de novidades na Teoria econômica atualmente consagrada"

    Essa política do Fed foi completamente inédita nos anais da teoria macroeconômica e jamais discutida nem sequer como hipótese em nenhum livro-texto de economia.
  • Peguete da L%C3%83%C2%B3gica  04/04/2020 13:05
    Alguém por aqui já ouviu falar da PEC 10/2020?

    $$ O Banco Central, limitado ao enfrentamento da referida calamidade, fica autorizado à comprar e vender direitos creditórios e títulos privados de crédito em mercados secundários, no âmbito de mercados financeiros, de capitais e de pagamentos.


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