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Como o mercado leva a uma exploração racional dos recursos naturais

É comum ouvir a afirmação de que investidores são míopes, imediatistas e propensos a só tomarem decisões baseadas em um horizonte temporal muito curto.  Daí as frequentes alegações de que há determinados investimentos altamente demandados pelo povo (os tais "investimentos de interesse público"), mas que, por serem de longo prazo, apenas o governo poderia fazê-los.

É dessa mentalidade que surge a defesa dos subsídios, das "regulações indutoras do crescimento" (se é que isso é possível), e das tributações de cunho corretivo (de novo, se é que isso existe): tudo isso teria o objetivo de fazer o mercado se voltar para objetivos sociais de longo prazo.

Embora essa visão de "governo guiando e corrigindo o mercado" seja amplamente aceita, o raciocínio está totalmente invertido: de um lado, os mercados contêm sim sofisticados mecanismos que gratificam o planejamento de longo prazo; de outro, é justamente o arranjo político democrático que estimula uma visão imediatista e totalmente voltada para o curto prazo.

A instituição mais fundamental para promover um adequado planejamento de longo prazo é a propriedade privada.  Um genuíno proprietário — seja de um pedaço de terra, seja das instalações industriais, seja do maquinário empregado em investimentos, seja de todo o capital aplicado — tem todo o interesse de tomar medidas que aumentem o valor de mercado de seus bens.

Por exemplo, considere uma enorme jazida de minério de ferro.  Logo de início, há dois arranjos possíveis: ou a jazida é propriedade privada de uma empresa, ou ela pertence ao governo que então arrenda sua exploração para uma mineradora.

Os dois arranjos são completamente distintos e levarão a resultados bastante diferentes. 

Se a jazida pertence ao estado, e este arrenda sua exploração a uma mineradora em um formato de concessão, a mineradora — justamente por saber que o terreno não é seu e que seu prazo para explorá-lo é limitado — terá todos os incentivos para exaurir a jazida o mais rápido possível.  Afinal, o contrato de concessão tem um tempo definido, e pode não ser renovado (a renovação depende de várias questões políticas, e o fato de o governo ser trocado a cada quatro anos é um fator de grandes incertezas).

Por outro lado, se a jazida se tornar uma genuína propriedade privada, os resultados serão outros bem distintos.  Nesse arranjo, ainda há quem pense que a gananciosa mineradora irá esgotar a jazida o mais rapidamente possível, extraindo todo o minério e direcionando-o a projetos voltados apenas à atual geração, ignorando as necessidades das gerações futuras. 

Uma reflexão mais profunda mostra que tal raciocínio não faz sentido.

O capitalista dono da mineradora, por mais "ganancioso" que ele seja (lembremo-nos de que "ganancioso" sempre são os outros; nós nunca somos), está ao menos minimamente familiarizado com a noção de que o minério de ferro em uma jazida — ao contrário de bananas, laranjas e trigo — é um produto finito e esgotável; ele não se renova naturalmente ano após ano.  Uma tonelada extra de minério extraída e vendida este ano significa exatamente uma tonelada a menos de minério nesta jazida no ano seguinte (ou em qualquer ano futuro). 

E daí?

E daí que, tão logo entendemos que o ganancioso capitalista dono da mineradora não quer maximizar sua receita mas sim o valor de mercado de sua empresa (dentre outras obrigações, ele tem acionistas a satisfazer), torna-se óbvio que ele tem necessariamente de pensar no futuro ao tomar decisões no presente.

Falando mais especificamente, para maximizar o valor de mercado do seu ativo, o proprietário da mineradora irá, no presente, extrair toneladas adicionais de minério (e investir as receitas no mercado financeiro para auferir juros de mercado) até o ponto em que ele terá um maior retorno caso deixe a próxima tonelada de minério na jazida, para ser vendida no ano seguinte ao preço de mercado esperado.

Por exemplo, se o minério está sendo vendido hoje a $50 a tonelada, e taxa de juros sobre ativos financeiros é de 10%, então a mineradora irá interromper suas operações caso imagine (com alta confiança) que o preço da tonelada do minério no ano que vem será de $55 ou mais, em decorrência de um aumento da demanda dos consumidores. (Estou assumindo, por motivos de simplificação, que os custos marginais de extração e de venda são os mesmos, ano após ano).  Tão logo ele chega a essa conclusão, o melhor "investimento" para suas unidades adicionais de minério seria deixá-los na jazida, "amadurecendo" para o ano seguinte.

Já em um arranjo de concessão, em que o governo é o dono da jazida e a arrenda por um tempo determinado, tal raciocínio empreendedorial perde força, pois agora há um tempo de arrendamento que irá expirar e — ainda pior — há riscos políticos de uma revogação da concessão, algo que pode ocorrer caso um governo populista seja eleito.

Assim, vemos que um capitalista ganancioso, no arranjo em que ele é o genuíno proprietário da jazida, irá implicitamente (e até mesmo involuntariamente) levar em consideração os desejos dos consumidores no ano seguinte ao tomar suas decisões atuais de produção.  E ele fará isso não porque está se deixando levar por motivos altruístas, mas sim porque visa ao seu enriquecimento pessoal.  Nesse caso, os preços de mercado estão fazendo com que até mesmo indivíduos egoístas promovam o bem-estar geral.

Se, por qualquer motivo, houver a expectativa de que o minério de ferro se tornará mais escasso no futuro, então seu preço atual no mercado de futuros será maior.  Isso fará com que, hoje, as mineradoras reduzam sua produção e mantenham o minério fora do mercado, desta forma aumentando seus preços já no presente, em antecipação aos preços esperados no futuro.  Os modernos mercados financeiros e de commodities — que fazem contratos futuros, bem como utilizam de vários derivativos exóticos — conseguem refinar esse arranjo ainda mais, atraindo todo o conhecimento disperso (e os diferentes apetites de risco) de milhões de pessoas e concentrando tudo em um só lugar.

Os críticos do capitalismo muito provavelmente irão reclamar de novo, dizendo agora que o fato de a mineradora estar reduzindo a oferta para elevar o preço é evidência da ganância e prejudica os consumidores.  Se isso ocorrer, então os críticos têm de se decidir: eles querem que o minério seja disponibilizado todo no presente ou querem que haja um pouco para o futuro?  A quantidade de minério é finita e não é renovável — e esse é o (suposto) problema.

Observe que, mesmo que o proprietário de uma mineradora seja diagnosticado com câncer terminal, ele ainda assim tem os incentivos para se comportar dessa maneira "eficiente".  O motivo é que ele pode vender ou a mineradora ou a jazida imediatamente.  O valor de mercado de toda a jazida será igual ao valor presente descontado de todo o fluxo futuro da renda líquida propiciada pela propriedade da jazida e pela sua operação ótima durante todo o futuro, indefinidamente. 

Mesmo que o proprietário pense que "ah, se eu ainda tivesse mais 10 anos de vida, iria gerenciar a mineradora de tal e tal maneira", essa decisão não mudará só porque ele tem apenas mais um ano de vida.  Em vez disso, ele pode vender a jazida ou a mineradora para quer fizer a melhor oferta, inclusive pessoas que têm mais de 10 anos de expectativa de vida.

Sendo assim, vemos que, contrariamente ao que dizem os críticos, uma economia de mercado pura contém sofisticados mecanismos que guiam os proprietários e os estimulam a agir como gerentes voltados para o longo prazo, mesmo na área de recursos naturais exauríveis.  Em total contraste, políticos e burocratas que controlam recursos naturais — no caso de empresas estatais — não possuem tais incentivos.  Dado que eles não podem pessoalmente embolsar as receitas (estou trabalhando em um cenário de ausência de corrupção), ou legar o ativo para seus herdeiros, políticos e burocratas têm um incentivo para maximizar a receita atual dos recursos naturais que estão sob seu controle temporário.

Conclusão

Proprietários privados em uma economia de livre mercado têm incentivos para maximizar o valor de longo prazo de sua propriedade, o que implicitamente os faz levar em consideração os desejos das gerações futuras.  Já políticos eleitos democraticamente, bem como seus burocratas nomeados no comando de estatais, agem como zeladores temporários que não irão pessoalmente se beneficiar da manutenção do valor de mercado dos ativos que eles controlam.

Locadoras de carro seriam tolas em imaginar que seus clientes irão sempre colocar gasolina mais cara, de alta octanagem, em seus veículos.  No entanto, por algum motivo insondável, milhões de eleitores acreditam que políticos com quatro anos de mandato serão mais visionários e menos imediatistas no comando de empresas e na alocação de investimentos do que proprietários e acionistas privados.



autor

Robert P. Murphy

é Ph.D em economia pela New York University, economista do Institute for Energy Research, um scholar adjunto do Mises Institute, membro docente da Mises University e autor do livro The Politically Incorrect Guide to Capitalism, além dos guias de estudo para as obras Ação Humana e Man, Economy, and State with Power and Market.  É também dono do blog Free Advice.



  • Killarney  06/04/2015 14:33
    Olá pessoal! Bom dia! Mais um artigo com 'selo de qualidade' Mises. No tocante ao assunto acima abordado, tenho uma dúvida: qual seria o melhor argumento para responder aos que imputam às empresas 'gananciosas' a poluição ao meio ambiente? Sou de Minas Gerais e o que sempre ouvi e algumas vezes vi, eram provas de degradação ambiental por conta das atividades de mineração... Mas podemos ainda levar isso para outras vertentes da exploração ambiental, como a pesca no Japão relacionada à possível extinção de espécies de atum? Obrigado e um forte abraço a todos.
  • Douglas  06/04/2015 14:41
    Explicado no próprio artigo: as jazidas no Brasil são concessão de prazo determinado (e pagam royalties ao governo). Não há propriedade privada.

    E esse é o ponto crucial. Praticamente todas as questões relacionadas ao ambiente envolvem conflitos sobre propriedade. Sempre que houver propriedade privada, os proprietários podem resolver estes conflitos por meio da proibição e da punição aos atos de transgressão. O incentivo para se conservar é uma característica inerente à estrutura de incentivos criada pelo mercado. O mesmo é válido para o incentivo de se preservar todas as coisas de valor. A responsabilidade pelos danos à propriedade alheia tem de ser arcado pelo indivíduo que causou o estrago.

    Propriedade comunal do ambiente, como existe hoje, é o problema. Pense, por exemplo, nas florestas. Elas não são geridas privadamente, e, nesse caso, qualquer meta de se conseguir uma administração racional e "verde" sempre será enganosa. Somente quando uma terra tem dono é que este possui vários incentivos para cuidar muito bem dela. Sua preocupação é com a produtividade de longo prazo. Assim, caso ele decida, por exemplo, arrendá-la para uma madeireira, ele vai permitir a derrubada de um número limitado de árvores, pois não apenas terá de replantar todas as que ceifou, como também terá de deixar um número suficiente para a safra do próximo ano.

    Propriedade privada é crucial. Não dá para enfatizar isso o bastante.
  • Killarney  06/04/2015 17:45
    Obrigado pela pronta resposta, Douglas. Quando elaborei a pergunta eu esqueci de comentar sobre a questão da poluição ambiental, afinal, ela não fica restrita à área de exploração. Segue, por exemplo, leito de rio abaixo. E neste caso? Claro que um judiciário mais célere e que infligisse penas mais significativas (de acordo com o faturamento ou com o tamanho/porte da empresa) podem ajudar a responder a pergunta anterior, mas ainda assim, minha dúvida permanece, pois se o ambiente foi lesado, não entraria o interesse 'público' aqui? Ou, ao invés de burocráticos órgãos de fiscalização (Ibama e congêneres), quem seria o responsável por 'vigiar' ou mesmo provocar a justiça a fim de reparar os danos da poluição?

    Poderia então, ao invés de órgãos do governo, serem empresas privadas as responsáveis pela fiscalização? E em caso de ganho na justiça, uma parte da indenização iria para a empresa que acionou a poluidora na justiça como forma de remuneração? Se sim... terei outras perguntas pra serem respondidas... rs).

    Desculpe-me pela profusão de dúvidas... Mas a 'culpa' é desse site mesmo, afinal, foi aqui que meus olhos se abriram para o privado, para a diminuição do Estado e, portanto, da sua interferência.
  • Pobre Paulista  06/04/2015 18:33
    Killarney, isto em geral entra no tópico "Externalidades" e não necessita de nenhum órgão regulador.

    Veja Artigos sobre o assunto 'Externalidades', em especial o do David Howden, que trata sobre poluição.
  • Marques  06/04/2015 18:48
    Essa encrenca existe justamente porque o rio é propriedade do estado -- ou seja, de ninguém. Logo, todos se sentem livres para poluí-lo.

    Por exemplo, quem, na prática, é responsável pelos rios? O Ministério do Meio Ambiente. Só que esse Ministério, com sua política de "integrar o meio ambiente à produção", serve para proteger as grandes indústrias com boas influências políticas e discriminar novos empreendedores ao, por exemplo, legalizar a poluição para as indústrias existentes ao mesmo tempo em que impõe custos proibitivos às novas.

    Atualmente, cidadãos comuns prejudicados pela poluição não consegue processar os grandes poluidores, que estão protegidos pelo governo federal. E as indústrias com boas influências políticas utilizam as regulamentações ambientalistas para impor custos proibitivos a potenciais concorrentes, impedindo que estes entrem no mercado.

    Por que manter esse arranjo?

    Sem propriedade privada, todos irão poluir os recursos naturais e, consequentemente, prejudicar terceiros.
  • Killarney  06/04/2015 19:12
    Obrigado, Pobre Paulista. Já estou a devorar o assunto aqui. Abraço!
  • Marcelo Simoes Nunes  07/04/2015 00:50
    Douglas, apenas complementando: o estatismo esquerdista tem várias faces, o ecologismo é uma delas, que desabrocha, significativamente, quando a ineficácia econômica do socialismo é posta a nu com o desmonte da URSS. A Europa tem menos de um por cento de cobertura florestal contra cerca de 65 porcento do Brasil. Mas qual é o grande problema? O desmatamento da Amazônia, é óbvio, não é? Pelo menos é isso que se vê diariamente na rede Globo. O incrível é que adultos acreditam nisso. Uma criança, pelo menos, seria mais curiosa, e perguntaria: mas se o mato é tão importante para todos, porquê os europeus não plantam florestas? O Brasil é o único país do mundo em que toda propriedade rural deve ter uma reserva legal florestal. Eu disse deve e não pode. Esse dever, significa que o proprietário da área rural, para possuir uma área cultivada tem de manter uma área de reserva florestal, da qual ele somente é titular no registro de imóveis, porque, na prática a reserva é intocável e representa apenas um ônus descabido. É o Código Florestal, uma lei, criada pelo ditador Getúlio Vargas, que vem sendo modificada ao longo dos anos, porém mantendo sua essência: o intervencionismo estatal na propriedade privada.
  • Renzo  13/04/2015 00:15
    Marcelo Simoes Nunes, apenas a título de curiosidade, a Europa tem 1% da cobertura florestal original, correto? Na internet tem informações que mostram que a cobertura é maior que 1%. Essa imagem é bem interessante: www.efi.int/files/attachments/associate_affiliate_members/efi_forest_map_a0_d_191212.jpg
    Considerando a quantidade de gente e desenvolvimento na região, não há motivo para os ambientalistas reclamarem...
  • Marcio Cajado  06/04/2015 15:56
    Amigo vá a uma praia privada em que se paga uma taxa para ter acesso e passar o dia e vá em uma praia pública (estatal) que deveria ser mantida por impostos pagos diariamente, veja em qual existe maior preservação e qualidade no ambiente, praias públicas de centros de cidade são podres, como um esgoto ao céu aberto, já as privadas parecem reservas naturais, essa questão ambiental é incrivelmente deturpada como quase tudo nesse mundo, quem é proprietário preserva o seu bem, o que é terra de ninguém, quem preservará?
  • Marcelo Corghi  06/04/2015 16:46
    esse é o melhor argumento para rebater qualquer critica ao privatismo. Só mostrar que no privado, a coisa sempre funciona melhor.
  • Bernardo F  06/04/2015 14:54
    Excelente artigo.

    Outra razão para que a Mineradora postergue a extração de minério consiste em que a curva do Custo Médito Total (average total cost) é em formato de U (u-shaped); chega um momento em que o custo médio total para extrair uma unidade adicional se torna proibitivo.
  • RodrigoVE  06/04/2015 15:43
    Excelente artigo, como sempre.

    Agora, tenho uma pergunta nao relacionada com o artigo, mas que estava pensando faz algum tempo. Como a teoria do livre mercado lida com o monopolio?

    Imagine que uma empresa X em algum setor Y (como a telecomunicacao), cresce muito alem de suas concorrentes e gradualmente absorve praticamente a maior parte do mercado do setor Y. No entanto, ao crescer demasiadamente a empresa X acaba por ter monopolio do setor.
    Existe algum mecanismo do livre mercado que lide com essa situaçao? Pois imagino que ao deter monopolio de um setor, a empresa X estaria inclinada a aumentar seu lucro onerando os consumidores.

    Obs: Estou usando teclado e OS estrangeiros e nao consigo acentuar.
  • Leandro  06/04/2015 15:59
    Esse cenário nunca ocorreu. Não há um mísero exemplo histórico disso.

    Em primeiro lugar, como explicado nesse artigo Monopólio bom e monopólio ruim - como são gerados e como são mantidos, quanto mais uma empresas cresce, mais ineficiente ela se torna, o que abre espaço para a entrada de um concorrente mais enxuto e mais eficiente.

    A única coisa que pode proibir o surgimento de um concorrente enxuto para competir com a empresa grande é o governo, que é justamente quem cria cartéis, oligopólios e monopólios, seja por meio de regulamentações que impõem barreiras à entrada da concorrência no mercado (via agências reguladoras), seja por meio de subsídios a empresas favoritas, seja por meio do protecionismo via obstrução de importações, seja por meio de altos tributos que impedem que novas empresas surjam e cresçam.

    Apenas olhe ao seu redor. Todos os cartéis, oligopólios e monopólios da atualidade se dão em setores altamente regulados pelo governo (setor bancário, aéreo, telefônico, elétrico, televisivo, postos de gasolina etc.).

    Recomendo este artigo, que fala exatamente sobre isso:

    A diferença entre iniciativa privada e livre iniciativa - ou: você é pró-mercado ou pró-empresa?

    E quando não era assim, o que ocorria? Quando o governo não tinha ainda poderes para se intrometer, havia formação de cartel entre os poderosos? Havia "exploração"? Não. O que ocorria era isso.

    Monopólio e livre mercado - uma antítese

    E vale também ver o que o governo americano fez com a Standard Oil, que havia reduzido brutalmente os preços do querosene:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=1999


  • Paulo  06/04/2015 20:04
    Mas e se essa empresa praticar preços ''predatórios'' com o intuito de quebrar essas empresas menores? Pelo simples fato de ela ter muito mais caixa do que elas, e muito mais capacidade de suportar algum prejuízo por determinado tempo.
    Alguns setores tenderiam a um monopólio, mesmo sem intervenção. Exemplo é o de mineração, determinado minério que se encontre na sua maior parte em certo país, e esse minério seja essencial para a industria, a empresa que deter o controle desse local poderia reduzir o preço do mercado inteiro e falir os outros. Garantindo sempre seu monopólio reduzindo os preços quando surge alguma ameaça ao mesmo. (Ela poderia reduzir abaixo da margem de custo das outras, haja visto que ela tem uma abundância desse mineral)..

    Um exemplo seria o petróleo, países árabes, se quiserem, podem reduzir seus lucros e quebrar o xisto dos EUA. Por que o custo de extração é muito menor..

    Após a quebra dos concorrentes menores, elas voltariam a elevar seus preços, isso tornaria viável novamente determinados poços, mas não haveria capital nas empresas que investiram neles, dado o prejuízo do periodo de preços baixos, devido ao custo maior de extração nos seus poços
  • Marcelo  06/04/2015 20:43
    Não apenas isso nunca aconteceu na prática, como também a própria teoria explica que isso seria completamente insustentável, para não dizer irracional do ponto de vista empreendedorial.

    Apenas imagine: você é o gerente de uma grande empresa e quer destruir a empresa concorrente reduzindo seus preços para um valor menor do que os custos de produção. Ao fazer isso, você começa a operar no vermelho. Ao operar no vermelho, por definição, você está destruindo o capital da sua empresa; você está, na melhor das hipóteses, queimando reservas que poderiam ser utilizadas para investimentos futuros.

    Pois bem.  Após vários meses no vermelho, você finalmente consegue quebrar o concorrente.  Qual a situação agora?  Você de fato está sozinho no mercado, porém bastante descapitalizado, sem capacidade de fazer novos investimentos.  A sua intenção é voltar a subir os preços para tentar recuperar os lucros de antes.  Só que, ao subir os preços, você estará automaticamente convidando novos concorrentes para o mercado, que poderão vender a preços menores.  Pior ainda: estes novos concorrentes poderão perfeitamente estar mais bem capitalizados, de modo que é você quem agora estará correndo o risco de ser expulso do mercado. Seus concorrentes poderão vender a preços mais baixos e sem ter prejuízos, ao passo que você terá necessariamente de vender a preços altos apenas para recuperar seus lucros.

    Ou seja, ao expulsar um concorrente do mercado, você debilitou sua empresa a tal ponto, que você inevitavelmente se tornou a próxima vítima da mesma prática que você aplicou sobre os outros.

    E é exatamente por isso que tal prática não é observada no mundo real. Ela é totalmente ignara. Um empreendedor que incorrer em tal prática estará destruindo o capital de sua empresa, correndo o risco de quebrá-la completamente. Um sujeito com esta "sabedoria" não duraria um dia no livre mercado.

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=1994
  • Marcelo Corghi  06/04/2015 16:08
    mais um ótimo artigo!
    parabéns, e continuem com o trabalho!
    cada dia que se passa, me convenço mais que a liberdade é o único meio de evoluirmos!
  • Diego  06/04/2015 16:23
    Como seria o modelo ideal de privatização? Poderiam dar exemplos de casos bem sucedidos, seja aqui ou no exterior. Obrigado.
  • Lopes  06/04/2015 16:58
    Sugiro Steve Hanke:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=1614

    Seu trabalho foi imprescindível no Leste Europeu com a marcha ao enfraquecimento do estado pós-URSS. No artigo supramencionado, ele especifica regras e recomendações - nos comentários, discute-se a necessidade da privatização da infraestrutura e abastecimento já existente dado que aeroportos, portos, encanamento e rodovias não surgirão de forma instantânea se houvesse uma plena liberalização do mercado, deixando-nos ainda reféns da incompetência estatal - daí um argumento pela legitimidade no texto.

    Tanto o texto, como os artigos recomendados e a sessão de comentários são muito interessantes.
  • Lopes  06/04/2015 17:10
    Um clássico da liberalização do mercado de um serviço é a situação das telecomunicações na Guatemala:



    O pacote da Claro é mais barato lá do que aqui:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=1363

  • Leonardo  07/04/2015 10:03
    www.brasilpost.com.br/robert-reich/a-ascensao-dos-pobres-que_b_6999648.html?ncid=fcbklnkbrhpmg00000004

    Como rebate isso?
  • Sakamoto  07/04/2015 11:26
    Não se rebate falácias e afirmações sem nexo.

    Riqueza e pobreza não estão, e nem nunca estiveram, relacionadas a "trabalho duro". Quem afirma isso não possui o mais mínimo entendimento de economia. Riqueza e pobreza estão ligadas à capacidade de cada indivíduo em gerar valor.

    Esse é o ponto.

    O pobre é pobre porque ele não conseguiu gerar valor financeiro para terceiros. Só isso.

    Esse artigo fala exatamente sobre isso.


  • Maurício Armani  07/04/2015 14:13
    O argumento de que o empresário visa maximizar o valor de mercado da empresa em vez de maximizar a receita carece de aprofundamento. Se alguém souber responder ou recomendar alguma leitura fico grato.

  • Leandro  07/04/2015 14:45
    É simples (e intuitivo), Maurício.

    Receitas, por si sós, não apenas não são indicadores de nada, como também não são cruciais para empresas. O que é realmente crucial para uma empres é o seu lucro, isso é, a diferença entre receitas e custos.

    E é pela sua capacidade de auferir lucros (e, logo, dividendos) que uma empresa é avaliada.

    No exemplo do artigo, de nada adianta a mineradora aumentar suas receitas se, para isso, seus custos operacionais também tiverem de ser elevados. Maiores receitas geradas por maiores gastos (maior custo operacional) não elevam o valor de uma empresa. Maiores receitas geradas pelo consumo do capital (patrimônio líquido) da empresa são deletérias para o futuro da empresa.

    É por isso que o que importa são os custos e os lucros. Receitas elevadas à custa de um aumento dos gastos ou do consumo do capital da empresa não é o objetivo de nenhum empreendedor sensato.
  • Maurício Armani  07/04/2015 22:48
    posto dessa forma fica bem óbvio! obrigado!
  • João Girardi  07/04/2015 17:53
    Tempos atrás havia lido um pequeno texto cujo título era "Ursos e burocratas" de autoria do Olavo de Carvalho. Nesse texto ele fala que os próprios caçadores lá nos Estados Unidos acabaram empreendendo um esforço de preservar a vida animal mantendo a população de ursos sob controle para impedir que eles acabassem aniquilando outros animais, e isso fez com que a própria população de ursos acabasse aumentando no longo prazo. Em contrapartida, o Olavo argumenta que nos locais em que a caça de ursos foi proibida, ao contrário do que os ambientalistas nos vendem, apenas um punhado de ursos ainda vive. Por acaso alguém conhece algum outro exemplo deste tipo ou algum artigo ou livro que comente a respeito?
  • Pobre Paulista  07/04/2015 18:28
    Se você gosta da natureza, privatize-a

    Excerto do texto:

    "Há um notável exemplo do mercado em ação. No Quênia, grupos de conservação e as Nações Unidas pressionaram o governo para proibir o comércio de marfim. Após a proibição, entretanto, o número de elefantes continuou diminuindo devido às caças ilegais (que são difíceis e caras de se controlar). No Zimbábue e em Botswana, sendo em ambos permitida a caça de elefantes, o número de elefantes tem crescido a 5% ao ano. Durante os anos 1980, a população de elefantes quenianos caiu de 65 para 19 mil, ao passo que no Zimbábue a população cresceu de 30 para 40 mil."
  • Renzo  13/04/2015 00:08
    Bons exemplos os dos elefantes e ursos, mas e quanto ao atum? Vi outro dia na TV que 75% das espécies de atum já foram extintas. Como é que se privatizaria o oceano?
  • Galvao  07/04/2015 21:38
    De uma forma ou de outra, os minérios vão acabar e só vão sobrar buracos. E solo contaminado. E o empresário vai morar em outro lugar.
  • Douglas Silva  08/04/2015 12:23
    Olá, alguém poderia me dar um ajuda? Esse ano estou fazendo cursinho, quero fazer Economia, porém como todos sabem, o pensamento esquerdopata domina o ensino superior neste país. Moro em São Paulo, sonho em fazer na FGV, mas como é particular e o custo é alto penso numa pública, tenho que ajudar em casa e não tenho uma boa condição financeira, por isso se passar irei fazer na FEA-USP, queria saber o que vocês fariam? Qual instituição indicariam e optariam? Sei que tem excelentes instituições, Insper, FAAP, FECAP, já pensei até no MACK; quero ter uma boa formação, mas existe algumas dificuldades, penso que tenho que me adaptar ao sistema que está ai.
  • anônimo  08/04/2015 12:49
    Não vale a pena ir pra uma universidade estudar economia.Tinha um artigo por aqui inclusive que recomendava que pra ser um economista bom era melhor fazer graduação em matemática.
  • Carlos  09/04/2015 01:34
    a) Toda a economia mainstream nas universidades brasileiras é calcada no Keynesianismo à la Kalecki. É inútil.

    b) Para que você quer fazer Economia? Qual o benefício futuro que você vai auferir com um canudo de economia que justifique a tortura que você vai passar pelos próximos quatro ou cinco anos?

    Se o que você realmente quer é entender economia, leia e leia muito sobre a EA. Não precisa voltar até os escolásticos (Mariana, Covarrubias, etc.) mas pelo menos de Menger pra cá. Leia os opositores também, para ver os seus argumentos. Não me culpe se você começar a rir loucamente assim que ler Keynes (se tiver estômago) ou o Kalecki (tão intragável quanto o doidão de Cambridge).

    Empreenda. Não há melhor escola de economia que abrir o seu negócio ver como todas as teorias mainstream se desmantelam em alguns dias de prática.

    A título de curiosidade, para você abrir o seu negócio você vai demorar uns 4 a 5 meses, em média, aqui no Brasil. Se você for bem "certinho" (leia-se: burro) você vai obedecer o 967 do Código Civil, e esperar as bênçãos e unções do leviatã, para aí sim, começar o seu negócio.

    Se, ainda assim, você achar que o diploma é absolutamente necessário, aprenda muita matemática, elabore modelos escalafobéticos e inúteis e vomite o que lhe for ensinado até conseguir o canudo. Eu fiz isso com o meu curso (Direito), mas olhando pra trás eu, com certeza absoluta, teria feito outra coisa com aqueles cinco anos caso tivesse a cabeça que tenho hoje.
  • Emerson Luis  16/04/2015 16:42

    Muitos criticam o livre mercado porque desconhecem seus mecanismos de autocorreção e autoaprimoramento. Acusam os capitalistas (que no livre mercado são todos os que quiserem sê-lo, não apenas os super-ricos) de serem "gananciosos" e ao mesmo tempo os acusam de atitudes e práticas que destroem sua própria lucratividade.

    * * *


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