O
que faz da economia algo fascinante é que seus princípios fundamentais são tão simples,
que podem ser escritos em uma única página, de modo que qualquer um consiga
entender. No entanto, são poucos os que entendem. — Milton
Friedman
A declaração acima feita por Friedman me fez pensar:
seria possível resumir os princípios básicos da economia em uma única página? Afinal,
Henry Hazlitt já nos deu um magnífico resumo dos princípios sólidos da ciência econômica
em seu livro Economia
em uma Única Lição. Poderiam
esses conceitos ser reduzidos a uma página?
Sim, os princípios da economia são simples: Oferta e
demanda. Custo de
oportunidade. Vantagens comparativas. Lucros e prejuízos. Concorrência. Divisão
do trabalho. E por aí vai.
Com efeito, um colega até chegou a sugerir que a
economia pode ser resumida a uma única palavra: preço. Ou talvez ao seu sinônimo:
custo. Tudo tem um preço; tudo tem um custo.
Adicionalmente, políticas econômicas sensatas são óbvias,
diretas e claras: é a livre interação entre as pessoas (ou seja, o mercado), e não
os burocratas do estado, quem deve determinar preços e salários. Mantenha o
governo longe da política monetária. Os impostos deveriam ser reduzidos ao mínimo.
O governo deve se manter exclusivamente por meio de suas arrecadações. Leis e regulamentações
devem ser as mesmas para todos. Tarifas de importação e barreiras comerciais
deveriam ser eliminadas ao máximo possível. Em suma, o governo que melhor
governa é aquele que menos governa.
Infelizmente, os economistas tendem a se esquecer desses
princípios básicos, e com grande frequência perdem tempo criando modelos esotéricos,
teorias bobas, pesquisas acadêmicas desnecessárias e importando modelos matemáticos
da física. O grande Armen Alchian dizia
que 95% de tudo o que é publicado em jornais acadêmicos de economia ou está
errado ou é irrelevante.
A seguir, a minha tentativa de resumir os princípios
básicos da economia e de uma política econômica sensata.
Economia em uma página
1.
Interesse próprio: o desejo de melhorar nossa condição já
vem em nós desde o útero e jamais nos abandona até irmos para o túmulo (Adam
Smith). O indivíduo sempre age visando a melhorar sua situação. Ele trabalha,
empreende e consome tendo como objetivo supremo a melhora de sua condição de vida.
Uma consequência de tudo isso é que ninguém gasta o dinheiro dos outros com a
mesma cautela e sabedoria com que gasta o próprio dinheiro. Principalmente
burocratas do governo.
2.
Crescimento econômico: o segredo para um padrão de vida
mais alto é expandir a poupança,
a acumulação de capital,
a educação e a tecnologia.
3.
Comércio: Em todas as trocas voluntárias, nas quais as informações
são previamente explicitadas, tanto o comprador quanto o vendedor ganham. A transação
não ocorreria caso
um dos lados não se beneficiasse dela. Consequentemente, um aumento no comércio
entre indivíduos, grupos ou populações beneficia ambos os lados. Por definição.
4.
Concorrência: Dado que os recursos existentes (mão-de-obra,
matéria-prima, máquinas e ferramentas) são limitados, e dado que os desejos e
necessidades a serem saciados são ilimitados, a concorrência sempre existirá em
todas as sociedades, e não pode ser abolida por decretos do governo.
5.
Cooperação: Uma vez que a esmagadora maioria dos indivíduos
não é auto-suficiente, e praticamente todos os recursos naturais precisam ser
trabalhados e transformados a fim de se transformarem em bens úteis, todos os indivíduos
— trabalhadores, proprietários de terra, capitalistas e empreendedores — devem trabalhar
conjuntamente para produzir esses bens e serviços valiosos e desejados.
6.
Divisão do trabalho e vantagens comparativas: Cada indivíduo é
único. As diferenças de talento, de inteligência, de conhecimento, de destreza
e de propriedade geram especialização. Consequentemente, cada indivíduo ou
grupo de indivíduos, ao se concentrarem naquilo que fazem melhor, adquirem uma
vantagem comparativa em relação aos outros. Quando indivíduos especializados em
um serviço e usufruindo uma vantagem comparativa nesse serviço transacionam com
outros indivíduos especializados em outro serviço e com vantagem comparativa
nesse outro serviço, o crescimento econômico e as vantagens do comércio são maximizados.
7.
Dispersão do conhecimento: As interações diárias entre
milhões de indivíduos produzem uma multiplicidade de informações que são
impossíveis de serem apreendidas e processadas por apenas um seleto grupo de
seres humanos. As informações sobre o mercado — isto é, sobre as demandas dos
consumidores e a escassez relativa (ou abundância relativa) de algum bem ou
serviço, bem o conhecimento sobre como atender a essas demandas — são tão diversas,
dispersas e ubíquas, que não podem ser capturados e calculados por uma
autoridade central.
8.
Lucro e prejuízo: a ocorrência de lucros e prejuízos é o
mecanismo de mercado que guia os empreendedores e mostra o que deve e o que não
deve ser produzido no longo prazo.
9.
Custo de oportunidade: tempo e recursos são bens limitados.
Consequentemente, sempre haverá escolhas e concessões. Se você quer fazer algo,
você terá de abrir mão de outras coisas que também gostaria de fazer. O preço de
fazer uma atividade equivale ao custo de outras atividades das quais você abriu
mão.
10.
A teoria dos preços: Preços são determinados pelas
valorações subjetivas de compradores
(demanda) e vendedores (oferta), e não por algum custo objetivo de produção. O valor de bens e serviços não é determinado pelo valor dos insumos
(como mão-de-obra e matéria prima); o
valor dos insumos é que é determinado pelo valor dos bens e serviços que eles
ajudam a produzir. E o valor dos bens e serviços é determinado subjetivamente
pelos consumidores. Quanto maior o preço, menor a quantidade que os
compradores estarão dispostos a comprar e maior a quantidade que os vendedores estarão
dispostos a colocar à venda.
11.
Causalidade: Para cada causa há um efeito. Ações
efetuadas por indivíduos, empresas e governos têm um impacto sobre outros
agentes da economia, impactos estes que podem ser previstos, muito embora o nível
de previsibilidade dependa da complexidade das ações envolvidas.
12.
Incerteza: sempre há um grau de risco e incerteza quanto ao
futuro, pois as pessoas estão continuamente reavaliando seus planos, aprendendo
com seus erros, e mudando de idéias. Tudo isso torna muito difícil prever qual
será o comportamento das pessoas no futuro.
13.
Salário e mão-de-obra: salários maiores só podem ser alcançados
no longo prazo se houver
um aumento da produtividade. E maior produtividade só é possível quando há bens de capital que tornam
o trabalho humano mais eficiente e produtivo. O desemprego crônico ocorre
quando os custos da mão-de-obra impostos pelo governo e pelos sindicatos (salários
e encargos sociais e trabalhistas) estão acima do valor de mercado.
14.
Controles governamentais: controles de preços, de salários e
de aluguéis podem beneficiar alguns indivíduos ou grupos, mas não a sociedade
como um todo. Ao final, eles criam escassez, mercados
paralelos e uma deterioração da qualidade e dos serviços. Não existe almoço
grátis. E nem subsidiado.
15.
Dinheiro: tentativas deliberadas de se desvalorizar a moeda
do país, reduzir artificialmente as taxas de juros, e adotar políticas de
crédito farto e barato inevitavelmente se degeneram em aumento de preços,
desarranjos e crises econômicas. O mercado, e não o estado, é quem deveria
determinar o que é o dinheiro e como deve ser o crédito.
16.
Finanças públicas: Eis os quatro mandamentos básicos que
devem nortear qualquer administração pública: (1) O governo não deve gastar mais do que arrecada;
(2) O governo não deve fazer nada que a iniciativa privada possa fazer melhor;
(3) Se os benefícios marginais não forem maiores que os custos marginais, então
tal medida não deve ser implantada; e (4) aqueles que se beneficiam de um serviço
devem pagar por ele.
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Leia também:
As dez leis fundamentais da economia
As dez leis fundamentais da economia (versão expandida e ampliada)