Fazia três anos que o Banco Central da Venezuela não
publicava nenhuma estatística oficial sobre a evolução da atividade econômica,
dos preços e do comércio exterior do país.
Este apagão estatístico, obviamente, não se devia a
um exercício de modéstia: não é que o governo socialista não quisesse ofuscar
seus países vizinhos com seus resplandecentes resultados. A realidade era exatamente
o contrário: o regime tinha necessariamente de esconder a miséria de sua
economia, não para seus próprios cidadãos (que sofrem na pele o fragoroso empobrecimento
vivenciado pelo país nos últimos anos), mas sim para seus sabujos
ideológicos espalhados por todo o planeta, os quais, até então, podiam se
escudar até o momento na falta de dados oficiais para opinar sobre a calamidade
que vive este falido experimento socialista.
Por mais inacreditável que possa parecer, ainda há
pessoas que dizem que a situação da Venezuela é uma ficção inventada pela
mídia. (Confira três exemplos constrangedores aqui,
aqui
e aqui).
No entanto, e felizmente, este apagão informacional
chegou ao fim. E não por uma boa fé do regime chavista — o qual, sem dúvida,
teria preferido continuar ocultando a desastrosa realidade de seu feudo
bolivariano, como vinha fazendo nos últimos três anos —, mas sim por pressões
do FMI, que exigiu que o regime voltasse a publicar estatísticas básicas da
contabilidade nacional sob pena de perder seus direitos de voto dentro do
organismo.
Foi necessário, portanto, pressão internacional
sobre o regime venezuelano para que ele aceitasse publicar alguns dados que já
existiam, mas que eram ocultados pelos chavistas por pura vergonha.
O Banco Central da Venezuela finalmente divulgou os dados
econômicos do país.
Colapso
total
E o que nos dizem esses dados? Que o desmoronamento da economia venezuelana é
absoluto.
No terceiro trimestre de 2018, o PIB era 52% menor
que o do terceiro trimestre de 2013.

Gráfico 1: PIB trimestral
da Venezuela (primeiro trimestre de 2013 = 100)
A moeda, o bolívar, perdeu simplesmente 99,96% do
seu valor durante este mesmo período.

Gráfico 2: Evolução
do valor do bolívar (2012=100)
As exportações e importações desabaram 70%.

Gráfico 3: Relações
comerciais da Venezuela (em milhões de dólares)
Além disso, ainda segundo o próprio Banco Central
venezuelano, neste mesmo período, o setor da construção civil caiu 95%; o setor
industrial, 76%; e as instituições financeiras, 79%.
E, por fim, a taxa de inflação de preços de 2018
ficou em 130.060%
(cento e trinta mil por cento).
E, vale ressaltar, estas são estatísticas do próprio
governo socialista, sem nenhuma auditoria. Não é desarrazoado imaginar que os
números reais sejam muito piores.
Ou seja, em apenas cinco anos, a economia
venezuelana vivenciou um dos maiores colapsos econômicos da história (desastres
comparáveis a este são encontrados apenas em economias em guerra): os
venezuelanos produzem as metades dos bens e serviços que produziam em 2013, sua
moeda simplesmente deixou de existir, não há mais obras no país, indústrias e
bancos foram dizimados, e suas relações comerciais com o resto do planeta se
tornaram quase inexistentes.
Vale lembrar, ademais, que o colapso econômico da
Venezuela é muito anterior às sanções impostas pelo governo americano. Até
meados de 2017, não havia
nenhuma sanção econômica contra a Venezuela. Havia, isso sim, sanções
pessoais contra alguns
membros da alta hierarquia do governo venezuelano (sanções essas que
envolviam congelamento de ativos e proibição de entrada nos EUA). Sanções deste
tipo só podem afetar apenas os indivíduos almejados. Não há como elas terem um
efeito sobre toda a economia venezuelana.
Foi somente em agosto
de 2017 que o governo americano implantou uma medida que pode ser
razoavelmente considerada uma sanção econômica: cidadãos americanos foram
proibidos de comprar de títulos do Tesouro venezuelano, bem como títulos
emitidos pela PDVSA, a estatal petrolífera venezuelana. Um ano depois, a
proibição foi estendida para outras estatais. E foi só.
Já no final de abril de 2019 — ou seja, um mês atrás
—, o governo americano de fato embargou
a compra de petróleo da estatal petrolífera PDVSA pelos americanos.
Será interessante alguém explicar que o colapso
econômico vivenciado entre 2013 e 2018 foi causado por uma sanção imposta em
abril de 2019.
Mas, incrivelmente, há quem o faça.
Causas
e consequências
Obviamente, o colapso econômico da Venezuela se deve
inteiramente à política econômica desenvolvida pelo socialismo bolivariano.
E no que consistiu essa nefasta política econômica
do socialismo bolivariano?
Primeiro, entre 2004 e 2008, desenvolveu-se uma
economia baseada na monocultura do petróleo, com o governo utilizando as
receitas desta indústria estatal para criar uma extensa rede
assistencialista com o intuito de tornar os cidadãos dependentes do poder
político.
Em seguida, a partir de 2009,
quando estas receitas entraram em colapso (tanto por causa da péssima e
corrupta gestão da estatal PDVSA quanto pela queda global do preço do
petróleo), optou-se por manter este arranjo clientelista por meio do
endividamento público.
Quando apenas o endividamento não mais funcionava, isso já em 2013, o
governo passou a imprimir dinheiro livremente para bancar estes gastos. Tal
medida empurrou o país
para a hiperinflação.
Sob uma hiperinflação,
o governo impôs controles
de preços que desestruturaram por completo o resquício de economia
privada que ainda existia no país.
Quando esses controles de preços
provocaram desabastecimentos
generalizados, o governo estatizou as indústrias
privadas e colocou
os militares para cuidar da distribuição de alimentos,
que passaram a ser intensamente
racionados.
Sob hiperinflação, preços
controlados e indústrias estatizadas, aboliu-se por completo
qualquer perspectiva de investimento
privado dentro do país.
Para culminar, o país que detém as maiores reservas
de petróleo do mundo vive hoje um racionamento
de gasolina: os motoristas só podem comprar 30 litros de combustível por
semana, e de acordo com o número das placas dos veículos.
O total colapso da economia provocou, por sua vez, o
colapso do estado, que se tornou incapaz de garantir o mínimo de ordem pública.
A taxa de homicídios do país disparou de 73
assassinatos por 100.000 pessoas em 2012 para 91,8
assassinatos por 100.000 pessoas em 2016. Ao mesmo tempo em que enfrenta
manifestações civis — nas quais os manifestantes
são assassinados pelo estado —, o governo também recorre aos colectivos,
que são as infames unidades paramilitares pró-governo que assassinam pessoas
consideradas inimigas do regime.
Ao
menos um alívio
Mas nem tudo é terrível. Há pelo menos um pequeno
alívio cômico. A situação econômica ficou tão ruim, que até
mesmo os criminosos estão tendo problemas.
O preço de uma munição no mercado negro
é de 1 dólar. Um carregador de pistola tem capacidade para 15 munições. Ou
seja, são necessários 15 dólares para um bandido ter uma pistola totalmente
carregada. Mas o salário médio no país é de 6,50 dólares (menos da metade de um
salário médio cubano, que
é de 22 dólares).
Como as vítimas de assalto simplesmente não têm
dinheiro ou objetos de valor para serem roubados, não há como os bandidos
conseguirem dinheiro para comprar munições. E sem munições, torna-se arriscado
assaltar. Como lamentou
um bandido, "disparar uma bala agora virou atividade de luxo no país."
Por isso, os assaltos
no país estão em queda. Os bandidos estão sem dinheiro para comprar
munições porque não há pessoas com dinheiro para serem assaltadas.
Consequentemente, os bandidos estão
saindo do país.
Para
concluir
Sem uma ditadura explícita,
a manutenção da ordem pública sob o socialismo é impossível.
Quando o socialismo não consegue estabelecer uma
ordem castrista — uma ditadura ao estilo cubano ou norte-coreano — sobre a
economia, ele provoca uma total decomposição da sociedade.
Este foi exatamente o resultado de décadas de
chavismo na Venezuela.