quarta-feira, 14 out 2009
Venho aqui comentar sobre os últimos
acontecimentos relacionados com as provas do Enem, somente para lembrar - mais
uma vez! - sobre a capacidade que tem o estado de criar desastres de proporções
gigantescas sobre fatos irrelevantíssimos. Isto não acontece vez ou outra. É
sempre! É o resultado da equação!
Quem quer uma explicação rápida para a
pobreza das nações, tão mais pungente quanto mais socialistas? É simples:
enquanto nas sociedades mais livres as pessoas estão estudando ou trabalhando -
em um único termo, produzindo -, nos países onde o socialismo predomina, elas
estão em filas ou "enxugando gelo". Sim, enxugando gelo, eis a imagem
- créditos ao meu querido pai ou a de quem ele a obteve - para ilustrar aquelas
atividades que, de tão inúteis (e são tantas!), nem sequer seriam imaginadas
existir nos países onde o sentido do capitalismo sobrevive.
Quem conhece os fundamentos da doutrina
liberal, acaba por se tornar um chato. É que a vida vai se tornando
monotonamente previsível. Para um sujeito como eu, o que aconteceu com a prova
do Enem é somente o que já aconteceu, em escala municipal, com as quilométricas
filas da meia-passagem. O Script é o mesmo: milhares de pessoas na fila, quando
poderiam fazer qualquer coisa mais útil; o atendimento sofrível de uma besteira
que jamais vai resolver o problema da pobreza ou do transporte ou mesmo, do
ensino; o roubo por uma quadrilha; a ampla cobertura jornalística sobre os
acontecimentos; a hilária promessa das autoridades sobre a apuração das
responsabilidades e - o que é bem merecido para este povo adorador de vales - a
convocação da população para voltar à fila para pegar outro com cores
diferentes!
Este foi só um mísero exemplo. Filas,
senhas, assaltos ou corrupção, reconvocações ou recadastramentos são notícias
diárias. Agora imagine o leitor o custo (literalmente, em termos financeiros)
de tudo isto...
A
prova do Enem segue este roteiro à risca. Os eventuais culpados, parece que são
somente uns "pé-rapados", talvez até cheguem a ir para outro lugar inútil, a
cadeia, quando, em um sistema liberal, sofreriam um apenamento mais voltado à
reparação do dano. Para que isto aconteça, a sociedade ainda vai pagar pela
investigação, pela captura, pelo processo e enfim, pelo cumprimento da pena.
Seria mais barato mantê-los soltos, o que aconteceria se pertencessem aos
quadros do PT: saem de cena aqui e reaparecem depois acolá.
Quanto à população, esta arcará com o
grande prejuízo. Milhões de estudantes e milhares de estabelecimentos de ensino
superior agora se vêm na necessidade de ajustarem seus cronogramas por causa
deste estorvo, que não serve para porcaria nenhuma. Este Enem não fará de
ninguém um médico melhor, ou um engenheiro mais competente. Não fará, com
certeza, pessoas melhores, até porque, em suma, não estudam para eles mesmos,
para alcançarem seus próprios projetos. Fará, no máximo, com que alguns se tornem
mais capazes de repetir bordões e conceitos úteis ao estado. Só isto.
Em uma sociedade livre, pra começar,
seriam poucas as faculdades ou universidades. Um amigo meu, que retornou
recentemente do Japão, confessou-me que lá são poucas as pessoas que detém um
título. Em uma grande fábrica para a qual trabalhava, mesmo aquelas que
ocupavam postos mais elevados não possuíam qualquer curso superior. Isto não
significa, em absoluto, que não eram pessoas preparadas. O que acontece no
Japão é a demonstração empírica do que temos afirmado em outro artigo,
ou seja, as pessoas vão fazendo cursos livres, voltados aos seus projetos, em
uma interação teoria x prática bem mais intensa do que a dos pobres
tupiniquins a dormir sobre anos de quadro negro. Disto se conclui que o ensino,
no Brasil, na verdade é uma autorização estatal para as pessoas poderem exercer
um ofício, e o Enem passa a ser uma espécie de pré-licença.
Destas poucas instituições de nível
superior, apenas uma parcela delas optaria por um concurso de provas como meio
de seleção. Desta forma, acaso viesse a acontecer um roubo das provas, apenas
uma dentre todas as outras instituições seria prejudicada, e o prejuízo que
sofreriam seus candidatos seria minimizado pelo fato de que o ajuste reparador
ocorreria justamente em função deste processo seletivo, e não de outros, como
acontece por aqui.
Como, então, resolver o problema do ensino
de má qualidade nas escolas públicas, que era o motivo alegado para a criação
do Enem? Oras, para quê escolas públicas? Devolva o estado o dinheiro
correspondente aos impostos e deixe as pessoas buscarem o conhecimento e o
aperfeiçoamento profissional por si próprias e por meio das relações mutuamente
benéficas que haverão de tecer entre si. Ou quiçá, que lhes permita estudarem
em casa ou ainda, na pior das hipóteses, que lhes pague uma bolsa para
matricularem-se em instituições privadas e enfim, que pare de inventar cursos
inúteis na grade curricular, cursos estes que servem somente aos seus
interesses, e não aos dos estudantes.
Leia também: A obrigatoriedade do diploma
- ou, por que a liberdade assusta tanto?