Uma bolha de crédito estatal?
O lucro do Banco do Brasil em 2009 superou os R$ 10 bilhões, e membros
do governo comemoram o resultado. Mas uma lupa no balanço do banco
estatal desperta desconforto nos mais céticos. Os ativos totais do
banco ultrapassaram os R$ 700 bilhões em 2009, saindo de pouco mais de
R$ 500 bilhões em 2008. O crescimento foi acelerado demais, basicamente
no crédito para pessoa física. Como o patrimônio líquido não aumentou
na mesma proporção, o patamar de alavancagem do banco deu um salto.
O
BB possui praticamente R$ 20 de ativo para cada R$ 1 de patrimônio.
Isso quer dizer, em outras palavras, que uma perda de apenas 5% nos
seus ativos levaria a uma perda total de seu patrimônio. O Itaú
Unibanco e o Bradesco, os maiores bancos privados, são bem mais
conservadores, com R$ 12 de ativo para cada R$ 1 de patrimônio. E, com
a crise econômica e o cenário ainda incerto no mundo, estes bancos
privados reduziram seu risco, o oposto daquilo feito pelo BB, pelo
BNDES e pela Caixa Econômica Federal.
O governo fala em
medidas anticíclicas, mas o fato é que uma bolha de crédito estatal
pode estar em gestação. Não custa lembrar que os problemas no setor
imobiliário americano começaram assim. A parcela dos bancos estatais no
total de crédito do país já chega a quase 50%, e subindo a ladeira. O
uso político deste crédito representa uma ameaça às liberdades, já que
o cão não morde a mão que o alimenta. O BNDES, por exemplo, destina 85%
de seus desembolsos para grandes empresas. O BB aumentou em 247% as
operações de crédito para o setor público em 2009. O PAC recebeu também
quase R$ 4 bilhões do BB em 2009.
No "Manifesto Comunista",
Marx colocou como uma das metas fundamentais de seu programa a
"centralização do crédito nas mãos do Estado". Parece que o Brasil de
Lula não está muito longe disso.